São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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'Tosca' mantém equilíbrio entre tensões

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma boa produção da "Tosca", ópera de Giacomo Puccini (1858-1924), é com frequência aquela em que prevalece um equilíbrio entre várias tensões.
É o caso do espetáculo dirigido pelo maestro Jamil Maluf, no Teatro Municipal, com a Orquestra Experimental de Repertório.
Em nenhum momento a densa partitura orquestral, que oscila entre um sucessivo jogo de acordes e a delicadeza de motivos executados em pianíssimo, chega a se sobrepor à atuação dramática do primeiro dos dois elencos.
Não que o grupo de vozes tenha sido homogêneo. O barítono Frederick Burchinal esteve visivelmente mais à vontade, como barão Scarpia, que o tenor Neil Wilson, como Mario Cavaradossi.
Wilson é dono de uma voz bonita, mas pequena, incapaz de encher com o necessário volume os metros cúbicos do teatro.
Burchinal, ao contrário, possui um vozeirão que, sobretudo nos registros mais graves, proporciona a redundância necessária para valorizar seus gestos como ator.
A soprano Mary Jane Johnson é uma Floria Tosca corretíssima. Sua particularidade: não "evolui" da amante ciumenta e bobinha do primeiro ato à assassina de Scarpia ao final do segundo.
Sua voz "spinto" (precisa no ataque das primeiras sílabas de cada fala) conota logo de início uma energia que o enredo confirmará.
A orquestra -são todos bolsistas da prefeitura, e não a rigor músicos profissionais- valoriza-se pelo empenho, pela aplicação.
"Você viu como ficou legal?", diziam, um ao outro, uma violoncelista e um violinista que se abraçavam à saída do teatro, quinta à noite, para comemorar o resultado da primeira das seis récitas.
Os sopros, sobretudo os metais, estiveram melhor que as cordas. Na "Traviata" da qual a mesma orquestra participou, no ano passado, o equilíbrio entre esses dois conjuntos de naipes chegou a ser maior. Mas é um detalhe, apenas.
Cabe assinalar, por fim, o "padrão Colón" de verossimilhança nos figurinos, cenários e direção cênica.
O teatro argentino -de onde praticamente tudo foi alugado- tem por hábito não sucumbir ao jogo da sugestão, da ambiguidade. O interior de uma igreja é o interior de uma igreja (primeiro ato), o terraço de determinada fortificação romana não é outra coisa a não ser isso (terceiro ato).
O resultado é que, mesmo para quem se vê perdido num espetáculo lírico, há como âncora a "verdade cênica" de uma quase superprodução.

Ópera: Tosca (de Giacomo Puccini)
Com: Orquestra Experimental de Repertório (direção de Jamil Maluf)
Quando: hoje e dias 21, 22 e 24
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (praça Ramos de Azevedo, s/n, centro, tel. 222-8698)
Quanto: de R$ 5,00 a R$ 60,00

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