São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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Scotto e Marton dividem noite no Rio

ALVARO MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Serão apenas três vozes no palco do Teatro Municipal do Rio, na estréia da próxima quinta-feira. E, ainda assim, farão o programa mais raro de ópera em todo este ano para uma platéia brasileira.
Na mesma noite, com intervalo de 20 minutos, sobem ao palco duas das maiores divas do canto lírico da atualidade, representantes de duas gerações distintas: a mezzo soprano húngara Eva Marton, 53 (acompanhada pelo baixo romeno Csaba Airizer), e a soprano italiana Renata Scotto -que estreou na ópera em 1952, aos 18 anos, e que comemora neste mês de outubro 40 anos do sucesso que a projetou internacionalmente, quando substituiu Maria Callas no Festival de Edimburgo, Escócia.
O programa é duplo e contempla também, além dos admiradores dessas divas, um público mais intelectualizado. Marton interpreta Judite, a noiva de "O Castelo do Barba Azul", única ópera de Béla Bartók (1881-1945). Scotto se encarrega da solitária mulher sem nome de "A Voz Humana", de Francis Poulenc (1899-1963), baseada na peça teatral homônima de Jean Cocteau.
Renata Scotto, que em sua época áurea, nos anos 60, era uma das poucas vozes que os críticos podiam comparar às de Callas e Renata Tebaldi, assume atualmente poucos compromissos em montagens operísticas. Prefere ocupar-se com masterclasses para alunos da Europa e EUA. Tem sua própria academia de canto em Savona, sua cidade natal, balneário próximo a Gênova.
A soprano tece críticas à geração de cantoras que a sucedeu, que, por sua vez, costuma se referir com parcimônia à geração de Scotto. O programa do Municipal oferece oportunidade de comparar esses estilos bem diversos.
Depois de uma montagem "tradicional" em Florença em 92, e de uma encenação moderna em Barcelona, em 95, esta é a terceira vez que a italiana interpreta o monólogo de Poulenc-Cocteau, novamente em embalagem moderna: cenário branco e minimalista se fechará sobre a diva, emparedando-a.
Eva Marton cumpre sua terceira agenda no Brasil (esteve aqui em 94 e 96), estreando no palco carioca. A cantora começou a ganhar repercussão mundial na Ópera de Hamburgo, a partir de 77.
Nos últimos anos, divide-se principalmente entre a Ópera de Viena e o Metropolitan de Nova York. É uma das três dezenas de cantoras que compõem o "star system" lírico, gravando com frequência com os maiores regentes.
A interpretação da difícil partitura de Bartók é considerada uma especialidade sua. Foi ovacionada em São Paulo, no ano passado, em versão de concerto. O maestro que a acompanha agora é o húngaro Gabor Ötvõs, que rege a Orquestra do Teatro Municipal do Rio. A produção, inteiramente local, teve patrocínio da Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro.

Óperas: O Castelo do Barba Azul (de Bartók), e A Voz Humana (de Poulenc); direção musical e regência do Maestro Gabor Ötvõs, com a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal
Quando: dia 23, quinta-feira, às 20h; e dia 26, domingo, às 17h
Quanto: de R$ 75 a R$ 10

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