São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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Gustavo e Luiz Felipe

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Aos que colocam Gustavo Franco no topo da lista dos homens mais poderosos da República, no período Fernando Henrique Cardoso, sugiro acrescentar um segundo nome: Luiz Felipe Lampreia, o chanceler.
Se dependesse de Gustavo Franco e da maioria da equipe econômica, o governo brasileiro teria eliminado as exceções que abriu para os sócios do Mercosul no esquema de restrição ao financiamento de importações. Era, aliás, uma decisão que deveria ter sido anunciada meses atrás.
Só não o foi porque o Itamaraty aconselhou Pedro Malan, titular da Fazenda, a sondar primeiro a reação dos parceiros. Como esta foi negativa, o governo prorrogou as exceções até 31 de outubro.
Agora, de novo, estava tudo pronto para a revogação, tanto que mais de um membro da equipe econômica argentina já a tinha como fato consumado. Mais uma vez, o Itamaraty não deixou, para não criar um embaraço para os argentinos justamente no momento em que o presidente Bill Clinton andava por Buenos Aires.
É verdade que se trata de um episódio pontual e de efeito reduzido na economia brasileira.
Ainda assim, parece ser uma das poucas decisões em que a opinião de Gustavo Franco pesou menos do que a de qualquer companheiro de primeiro escalão.
Mais importante do que essa micro queda de braço entre repartições federais é a evidência de que a política externa começa a ter influência sobre as decisões internas.
O que, de resto, é positivo. Trata-se de um sinal de que o Brasil está voltando a fazer parte do mundo, ainda que no modesto lugar que lhe cabe pelo nível de desenvolvimento.
Além disso, o Itamaraty conseguiu ser a dependência estatal menos afetada pela degringolada dos últimos muitos anos, o que lhe dá condições de manter quadros em geral de bom nível e, por extensão, desenhar políticas mais consistentes.

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