São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Idosos reclamam de maus-tratos e abandono

FLÁVIO ARANTES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Pesquisa feita com 700 idosos de 12 cidades do Paraná revela que 84% deles afirmam já ter sido de alguma forma maltratados pela própria família.
A pesquisa foi realizada pela psicóloga Regina Teixeira, diretora da Clínica da Maioridade da Universidade Tuiuti, de Curitiba.
Entre os tipos de maus-tratos, os idosos listaram discriminação, ofensas, agressões físicas e morais.
A pesquisa foi aplicada a idosos que moram com a própria família. Dos pesquisados, 50% residem com o companheiro ou companheira. O restante, com os filhos. A maioria dos pesquisados (75%) são mulheres.
O levantamento, um questionário com 23 perguntas, elaborado pela psicóloga em parceria com a Sociedade Brasileira de Gerontologia, revelou que 70% dos idosos não reagiram aos maus-tratos. Os outros 30% buscaram apoio em um amigo ou na religião.
Ainda segundo a pesquisa, os maus-tratos provocaram angústia em 62% dos idosos. "O que mantém o ser humano vivo é a afeição", afirma a psicóloga.
O questionário foi aplicado a idosos que participam de cursos para a terceira idade oferecidos por universidades ou faculdades das 12 cidades pesquisadas.
Segundo Regina Teixeira, 58% dos pesquisados têm o primário completo, e 72%, entre 60 e 70 anos. O questionário não levantou o nível social dos entrevistados. Mas, segundo a psicóloga, a maioria pertence à classe média.
Abandono
Além de maus-tratos, os idosos também são vítimas de abandono. Cerca de 65% deles disseram se sentir abandonados e sozinhos.
Regina afirma que um levantamento feito pela Secretaria de Saúde do Paraná revela que a causa da morte é apontada como desconhecida em 60% dos óbitos de pessoas com mais de 60 anos no Estado.
"Isso revela que essas pessoas não têm sequer um acompanhamento médico. Quando elas morrem, não existe um médico que tenha acompanhado o quadro clínico daquela pessoa e que possa dizer o que a matou."
Para Regina, "quando a causa da morte não está clara, o médico que vai só assinar o atestado de óbito prefere não se arriscar".
Ela trabalha há três anos com pessoas da terceira idade e diz que é elevado o índice de hipocondríacos entre os idosos.
A psicóloga diz também que o desrespeito às pessoas da terceira idade é cultural. "Trata-se de um estereótipo que os idosos acabam vestindo."

Texto Anterior: Projeto social da Basf beneficia jovens
Próximo Texto: Estudo vai expor causas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.