São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997
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Diretor opõe conhecimento ao obscurantismo

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Youssef Chahine surpreenderá o espectador do Brasil, por ao menos quatro motivos.
Primeiro: ao contrário dos cineastas orientais revelados aqui pela Mostra Internacional de Cinema, o egípcio Chahine representa uma tradição de cinema eminentemente popular. Assim, "O Destino" é um filme de espetáculo, aventura e música -desenvolto em todos esses registros.
Segundo: "O Destino" se passa na Andaluzia, século 12. Assim, embora trate do conflito entre racionalismo e intolerância religiosa entre os muçulmanos, a paisagem nos é familiar: o mundo árabe, tal como se cristalizou na Espanha.
Terceiro: graças a essa familiaridade, o filme transpõe com muita facilidade as fronteiras do mundo árabe. O assunto de Chahine é a luta entre o conhecimento (representado pelo filósofo Averroes -de quem Borges fala em "El Aleph") e o obscurantismo. Essa luta está longe de nos ser estranha: é ligar a TV e ver.
Quarto: o estilo do diretor é de fato cativante. As imagens muito límpidas revelam um sentido agudo do enquadramento, da luz e dos movimentos de câmera.
Há também alguns aspectos que dificultam o entendimento, e convém chamar a atenção para eles.
O principal é que se trata de um filme com muitos personagens. E os árabes são todos morenos; os mais idosos usam, todos, barba; às vezes, eles estão de turbante; às vezes, não. Com isso, levamos um bom tempo até fixar quem é quem na história (algo parecido acontece com certos filmes japoneses).
"O Destino" tem ainda algumas características desconcertantes. Há, por exemplo, um personagem francês que parece estar em cena basicamente para agradar aos co-produtores franceses.
E há coisas que seriam difíceis de aceitar num filme ocidental, como, por exemplo, a sobrecarga de aspectos políticos no final, em que o combate aos fundamentalistas se coloca de maneira explícita demais e sutil de menos.
É difícil dizer se isso se deve às características do público egípcio ou não. Mas a sensação é de um aspecto que contrasta com um conjunto requintado. Ainda assim, "O Destino" é essencial.

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