São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997
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Exposição de Moran mostra arte "esquecida"

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A tradição de pinturas paisagísticas nos EUA tem duas grandes vertentes. Uma, grandiloquente e naturalista, teve como fundamento os discípulos de Thomas Cole (1801-1848), um inglês que serviu bem à aristocracia do Novo Mundo e seus delírios arcadianos.
A outra, muito menos extrovertida mas talvez muito mais carregada de significado, foi a escola que se chamou de Luminismo e que deixava de lado a exuberância física das cenas da natureza em favor de uma atmosfera mais íntima, calma e reflexiva. Fitz Hugh Lane (1804-1865) estava entre seus pais.
Um ramo se expandiu para retratar o Oeste, usou como inspiração literária autores como Shelley. O outro permaneceu no Leste e usou transcendentalistas como Emerson e Thoreau como fontes.
Robert Hughes, o australiano que se tornou o grande crítico de arte dos EUA neste final de século, nota bem que foi o Luminismo que prosperou nas artes plásticas no século 20 no trabalho de Georgia O'Keefe e Mark Rothko, enquanto a exuberância dos discípulos de Cole dominou o espaço da sétima arte, o cinema. Foi no CinemaScope que o exagero de cores, luzes e tamanhos dos paisagistas mais populares do século 19 afinal encontrou o seu meio mais apropriado.
A Galeria Nacional de Arte, em Washington, está mostrando até o dia 11 de janeiro de 1998 a primeira retrospectiva já feita do mais famoso seguidor da linhagem de Cole, Thomas Moran (1837-1926).
Credita-se a Moran, talvez por excesso de benevolência, a criação, há 150 anos, do primeiro parque nacional dos EUA, o de Yellowstone, no Estado de Wyoming. Diz a lenda que seus quadros sensibilizaram congressistas a proteger por lei as belezas naturais do Oeste.
A não ser que os políticos norte-americanos tenham mudado muito neste século e meio, é mais provável que o esforço de lobby comandado pelo diretor do Serviço Geológico dos EUA, Ferdinand Hayden, é que tenha obtido a aprovação da lei dos parques.
Mas não há dúvida de que as pinturas de Moran impressionaram o público do século passado. Hughes diz que elas tiveram sobre os norte-americanos da época efeito comparável aos das primeiras fotos da Lua sobre os deste século.
As 99 telas que compõem a exposição mostram a efusividade de cores que caracterizava a escola de Moran. Elas também ocultam, por coerência ideológica, os efeitos do progresso humano sobre as paisagens, retratadas conforme o ideal rousseaniano de que quanto menos tocada mais bela é a natureza.
A exposição tem o mérito histórico de realçar um tipo de arte que estava sendo esquecido. O presidente Bill Clinton é, em parte, responsável pela reabilitação de Moran, por ter colocado em seu escritório na Casa Branca uma de suas pinturas, exposta na retrospectiva.

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