São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997
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Em banho-maria

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - É comum ouvir deputados reclamando da morosidade da Justiça no Brasil. Têm razão, os deputados.
Mas é curioso que esses parlamentares não reclamem da lentidão da Câmara dos Deputados quando essa instituição se atrasa no seu dever de também promover justiça.
É o caso de seis processos de cassação de deputados que estão à espera de uma data para serem votados pelo plenário da Câmara.
Os processos, só para relembrar, envolvem os seguintes deputados: Pedrinho Abrão (PTB-GO), acusado de cobrar propinas de uma empresa; Osmir Lima (PFL-AC), Zila Bezerra (PFL-AC) e Chicão Brígido (PMDB-AC), acusados de vender o voto a favor da emenda da reeleição; Adelaide Néri (PMDB-AC), acusada de concordar em pagar um aluguel para ocupar uma vaga na Câmara; e Chicão Brígido, de novo, acusado de alugar sua vaga de deputado.
O caso de Pedrinho Abrão está para fazer aniversário. Completará um ano no início de dezembro. A venda de votos surgiu em maio passado. O aluguel de mandato é mais recente, de agosto.
Como todos já passaram pela Comissão de Constituição e Justiça, dependem apenas de uma decisão do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), para ir a plenário.
Temer está preocupado. Sabe que esses parlamentares serão absolvidos pelo plenário. O espírito de corpo vai prevalecer.
Com a absolvição, a gestão de Temer ficará marcada. Por mais que se declare a favor da punição, ele terá sido o presidente da Câmara no comandou da instituição durante os processos que resultaram em impunidade.
Por conta disso, Temer decidiu que vai esperar o melhor momento para a votação em plenário. Uma sessão em que os deputados se mostrem mais propensos a aprovar a cassação. Mesmo que seja só em 98, ano eleitoral.
Não deixa de ser uma estratégia. Principalmente se der resultado e houver cassações. Mas a minha intuição me permite dizer que esse atraso todo será apenas isso mesmo: um atraso.

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