São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997 |
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Negros vão do céu ao inferno em Chicago
EDSON FRANCO
Em primeiro lugar ficou Atlanta, seguida da capital, Washington. E Chicago teve de se contentar com a medalha de bronze. E por que esse ranking surpreende? Pelo simples fato de Chicago ser base, moradia e fonte de renda de dois dos negros mais influentes, ricos e famosos dos EUA hoje: o jogador de basquete Michael Jordan e a apresentadora de TV Oprah Winfrey. Por outro lado, o resultado da pesquisa não provoca espanto em quem passeia pelas ruas centrais de Chicago. Há na cidade uma minoritária, mas evidente, classe média negra disputando vagas nos minguados e caros estacionamentos do centro. Mas, depois de desligar o motor das suas BMWs, os integrantes dessa classe média vão para as calçadas, onde são abordados por pedintes. E aí os negros são maioria. Devido ao número de oportunidades de trabalho geradas na cidade, pode-se concluir que alguns negros se tornaram pedintes -ou "homeless", como são chamados por lá- por opção. Afinal, Chicago tem um talento para se reconstruir instituído em 1871, quando a cidade sofreu um incêndio que devastou seu centro. Mas pelos andaimes é possível ver que as vagas de base na construção civil estão nas mãos de outro grupo numeroso em Chicago: os mexicanos. Blues Meios de ascensão social e fonte de renda, que eram exclusividades dos negros, estão sendo ocupados por outros grupos étnicos. É o caso do blues, estilo musical que ganhou um impulso decisivo em meados dos anos 50 ao receber uma carga de eletricidade no lado oeste, negro e pobre de Chicago. Depois do furacão texano Stevie Ray Vaughan, hoje é normal encontrar garotos brancos com uma guitarra no pescoço interpretando as agruras do estilo. Em Chicago, esse embranquecimento aparece no palco e na platéia que frequenta os clubes. Buddy Guy, guitarrista e proprietário do Legends -um dos melhores clubes de blues da cidade-, afirma: "Se você vir 5 negros no meu clube, 3 deles são funcionários meus". Apesar de ter perdido espaço em áreas que dominava e de constituir a maioria dos miseráveis que perambulam pelo centro, a população negra de Chicago tem muitas histórias vitoriosas para contar. Além do United Center (ginásio do Chicago Bulls) e dos estúdios Harpo (propriedade de Oprah Winfrey), essas histórias podem ser conhecidas em museus, bairros, casas de espetáculo, bibliotecas e até na prefeitura da cidade. Texto Anterior: King faz 72 como gosta, no palco Próximo Texto: Jordan vai para o vestuário Índice |
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