São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997
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King faz 72 como gosta, no palco

Guitarrista escolheu Chicago para a festa

DO ENVIADO ESPECIAL

"Você é B.B. King?
"Sim, sou eu.
"Mesmo? Puxa!
"Por que tanto espanto?
"Eu pensei que B.B. King estivesse morto..."
Contando seu diálogo com um jovem fã, B.B. King se apresentou ao público do Riviera Theater, em Chicago, no show de comemoração pelo seu 72º aniversário, em setembro passado. Na platéia, eufórica, a maioria tinha idade para ser seu neto.
A lenda continua viva. Não apenas seu público se renova, como a energia que transmite do palco.
Impossível ficar parado. B.B. King literalmente mexe com quem o ouve: cabeças movendo-se ritmadamente de um lado para o outro improvisam uma coreografia coletiva sempre que o rei do blues faz Lucille, sua guitarra, soar.
E como soa. Improvisando sobre novos e velhos temas, B.B. é um virtuoso sem malabarismos. Frases curtas e o inimitável vibrato sustentam um estilo único entre os bluesmen. As notas de Lucille são poucas, mas essenciais.
O show foi uma festa. Não faltaram convidados de honra, como o mais bem-sucedido bluesman da geração seguinte à do aniversariante. Robert Cray não se importou em esquentar o público para King. E puxou um "feliz aniversário".
Emocionado, King disse à platéia que fez questão de comemorar seu aniversário em Chicago. Nascido no Sul dos EUA, assim como B.B., o blues chegou ao Meio-Oeste junto com os trabalhadores negros.
Diz a lenda que, por estarem mais longe de casa, os precursores da música negra na cidade acabaram criando um estilo ainda mais melancólico, que acabou conhecido como Chicago blues. É a música mais tocada em bares e teatros locais.
A ligação de B.B. King com Chicago é antiga. Foi lá que ele gravou um dos melhores de seus mais de 50 discos. "Live at the Cook County Jail", como o nome diz, é a gravação ao vivo de um show para os presidiários da cadeia do condado.
Sentado em uma cadeira no palco do belo Riviera Theater, ele fechou o show de aniversário tocando suas músicas mais intimistas. Tomou uma garrafa d'água de um fôlego e atacou com "The Thrill Is Gone".
O público e os cartazes de apresentação pendurados no teto mostravam que, ao contrário da letra da música, a vibração não se esgotara. Aos 72, B.B. King pode não ser mais um menino, mas continua rei.

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