São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997
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Morador de Chicago é hospitaleiro e odeia Nova York

CHARLES W. LEVESQUE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nesse verão, eu -assim como Julia Roberts- fui a Chicago para participar do casamento de umas das minhas melhores amigas.
Depois de uma cerimônia simples e elegante, eu estive num jardim conversando com outros convidados sobre a cidade de Chicago.
Alguém comentou que tinha uma prima, nascida em Phoenix (em pleno deserto do Arizona), que havia mudado para Chicago por causa do "calor" da cidade.
Sobrevivente de inumeráveis invernos frios, eu sabia que o convidado não falava do clima de Chicago. Ele disse então que a prima havia visitado a cidade e descoberto o calor humano dos habitantes.
Depois da conversa, eu me perguntava sobre como essa moça estaria se adaptando à minha cidade. Mas eu não tinha dúvidas que as coisas iam bem, pois ela já havia descoberto uma das fontes do charme local: a hospitalidade.
Talvez, se alguém tivesse dado algumas dicas para ela, a adaptação fosse ainda mais fácil.
Então, comecei a fazer uma lista de regras que fazem de qualquer mortal um verdadeiro "chicagoan". Ela vale tanto para novos moradores quanto para turistas.
A primeira regra é lembrar das suas raízes e respeitar as dos outros. Chicago é uma cidade de imigrantes e tem pouco mais de 150 anos. Em resumo, somos todos recém-chegados.
Cada grupo étnico tem seu dia de festa. O dos irlandeses começa em 17 de março. É a festa de St. Patrick, padroeiro da Irlanda.
Na ocasião, a prefeitura pinta de verde o Chicago River. A comunidade e milhares de descendentes desfilam pelo centro -muitas vezes sob a neve.
O ritmo de celebração continua com o desfile dos gregos em maio, a festa escandinava Midsommerfest em junho e as comemorações mexicanas e alemãs em setembro.
Durante o verão, quando as comunidades não estão celebrando, os bairros estão. Quase todos têm uma festa promotora para chamar a atenção da cidade. Parecem dizer: "Olhe o que nós temos aqui, nossas casas, nossos restaurantes, nossos parques!"
No seu dia especial, erga a bandeira da antiga pátria e vá celebrar no centro e nos parques.
O verdadeiro "chicagoan" sabe que não há contradição entre celebrar as origens e ser um bom norte-americano. Os bairros étnicos, com suas tradições, restaurantes e lojas típicas, são responsáveis por boa parte do charme e da qualidade de vida na cidade.
Frio
Não adianta reclamar. A solução é aproveitar cada dia de sol. No verão, vá à praia -a cidade tem mais de 32 km de parques e praias limpas à beira do lago Michigan. As praias têm salva-vidas de junho até o começo de setembro.
Ande de bicicleta nas pistas ao longo do lago ou visite o Navy Pier (600 East Grand Ave.), um cais no lago com uma roda-gigante (equivalente a um prédio de 20 andares), lojas e restaurantes. De lá você tem uma das vistas mais dramáticas e panorâmicas da cidade.
Nas noites quentes, enquanto as luzes dos arranha-céus gigantes piscam em volta de você, curta um concerto gratuito da Grant Park Symphony no parque homônimo.
Nos dias frios ou chuvosos, visite os museus. Alguns, como Instituto de Arte de Chicago, Shedd Aquarium, Field Museum of Natural History e Museum of Science and Industry, são conhecidos mundialmente.
Esses são lugares quase sagrados para o "chicagoan", destinos de visitas escolares durante a juventude, lugares para sair com os namorados e programa de férias.
Mas o verdadeiro "chicagoan" sabe que a cidade tem dezenas de museus menos conhecidos e mais especializados.
Um exemplo é o National Vietnam Veterans Art Museum (1.801 South Indiana Ave., tel. 001-312/326-0270). Ele abriga um acervo composto apenas por obras de arte criadas por combatentes na Guerra do Vietnã.
Outro destaque é o Peace Museum (314 West Institute Place, tel. 001-312/440-1860), que usa suas exposições para promover a paz.
Há ainda o elegante Museum of Contemporary Art (220 East Chicago Ave., tel. 001-312/280-2660) e vários museus étnicos, como o Mexican Fine Arts Center Museum (1.852 West 19th St., tel. 001-312/738-1503), o Swedish American Museum Center (5.211 North Clark St., tel. 001-773/728-8111) e o Ukranian National Museum (721 North Oakley Ave., tel. 001-312/421-8020).
À noite, assista a uma peça nas centenas de teatros afastados do centro. É nos bairros, igrejas reformadas, fábricas antigas e bares que você encontra os pequenos grupos de teatro que criaram, com suas obras experimentais e ousadas, o famoso "Chicago style".
Selva de Pedra
A terceira regra é aprender algo sobre arquitetura. A cidade foi epicentro de grandes movimentos na história da arquitetura moderna, e o arranha-céu foi inventado ali.
Reza a lenda que, em Chicago, até os motoristas de táxi podem conversar inteligentemente sobre Frank Lloyd Wright, Louis Sullivan e os demais arquitetos que tornaram a cidade a capital da arquitetura norte-americana.
Um ótimo lugar para começar a aprender é a Chicago Architectural Foundation (224 South Michigan Ave., tel. 001-312/922-8687), que oferece passeios a pé pelo Loop, o antigo centro da cidade.
Outra opção é um tour de barco pelo Chicago River. A vista dos prédios é fantástica. O passeio é vendido pela Chicago From the Lake (North Pier, 465 East Illinois St., tel. 001-312/527-1977).
Finalmente, para ser um verdadeiro "chicagoan", vire bairrista e tenha muito orgulho da cidade. Ouça blues, jazz e gospel. Decore a letra de "Sweet Home Chicago". Torça para os times locais: Cubs, Sox, Blackhawks, Bears e, claro, para Michael Jordan e os demais Bulls. Odeie Nova York e ignore as pretensões californianas.
Ao passar alguns dias na cidade, você aprende que o mundo está cheio de lugares e possibilidades, mas esse pedacinho de terra chamado Chicago, mesmo com os problemas, é muito especial.

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