São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Coolio busca a salvação

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Pode ser que, ao cabo das três badaladas, Coolio não consiga seu lugar no céu. Mas com "My Soul", seu terceiro álbum, ele tenta, literalmente, encomendar sua alma.
Há citações do diabo, exortação antidrogas, mensagens para "se encontrar lá". Mais, emenda alguns corais gospel e ainda se serve explicitamente de "Canon", do compositor barroco alemão Johan Pachelbel -sem crédito, naturalmente- no hit que hoje toca nas rádios brasileiras, "C U When U Get There".
Coolio vem progressivamente amaciando a mensagem. Faz questão de se manter longe dos discursos violentos do gangsta, incorpora instrumentos acústicos e mergulha no funk -já na primeira música do disco inclusive, "2 Minutes & 21 Seconds of Funk".
"One Mo", a seguinte, bebe na grande fonte dos 80, Zapp Troutman -com o refrão feito todo em vocoder.
Em "The Devil Is Dope", Coolio prega contra as drogas, descrevendo como os junkies estão próximos do inferno. Coolio foi viciado em crack há cerca de dez anos, mas hoje, sete filhos e 4 milhões de cópias vendidas do álbum "Gangsta's Paradise", o anterior, depois, é um dos maiores figurões da indústria.
"My Soul" aposta na diversificação. Absorve temas da antiga, como "Pull up to My Bumper", de Grace Jones, que Coolio transforma na disco "Ooh La La", e utiliza os serviços do produtor Ray Parker Jr. ("Ghostbusters") em "Can I Get Down 1x". Tem um divertidíssimo "interlúdio", em que cinco vozes caricatas dizem ao artista o que ele deve falar, de sua responsabilidade com o "povo", com as "irmãs" etc.
É essa a preparação para a faixa-título, introduzida por um aquecimento de cordas de orquestra e de piano e o refrão "My Soul", cantada por Ras Kass, poderosíssimo. Elaborado, o tema tem um violão quase étnico a lhe pontuar.
Há ainda introduções com gaita, guitarras de blues, vocais de apoio à B.B. King (vide "Nature of the Business"), babinhas próprias para acender isqueiros ("Homeboy") e grandes vocalistas dando sua colaboração nos backings.
Em "My Soul", Coolio mexe na embalagem, parece querer fazer uma cabeça de praia com um público mais amplo, quem sabe branco. Talvez seja assim, distanciando-se cada vez mais do gangsta que o projetou, que o artista vislumbra o caminho de sua própria salvação.

Disco: My Soul
Artista: Coolio
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 18

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