São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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'Democracia ajuda eficiência'

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)

O sociólogo norte-americano David Stark, 47, professor da Universidade de Columbia, diz acreditar que não há oposição entre democracia e eficiência econômica no esforço para reduzir as desigualdades sociais.
Stark foi o primeiro conferencista do 21º encontro anual da Anpocs. Paralelamente a sua conferência, foram efetuadas ontem quatro mesas redondas, 17 seminários temáticos e outros eventos menores.
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Folha - Na transição ao pós-comunismo na Europa do Leste, qual a relação entre democracia e o reconhecimento, pelos novos regimes, das redes informais que já existiam naquelas sociedades?
David Stark - O que constatei foi que um regime que leva em conta essas redes (República Tcheca) tem maiores condições de aplicar políticas coerentes do que outro (Hungria) em que essa estrutura em rede foi ignorada. Essa coerência se traduziu em maior eficiência no campo econômico.
Folha - Mas o que muitos ainda acreditam, naquela e em outras regiões, é que a escolha seja entre mais democracia e maior eficiência na economia.
Stark - É um falso antagonismo. A meu ver, a democracia ajuda a promover a eficiência econômica, e não o inverso.
Folha - E quando a opção (irreal ou não) é outra: entre democracia e eficiência, vista como instrumento para diminuir desigualdades?
Stark - Esse argumento é levantado por alguns, mas não creio que seja real. Quando governos e sindicalistas passaram a se preocupar com as desigualdades emergentes na Europa do Leste, constataram que a diferença entre as maiores e menores rendas individuais havia chegado a dez para um. No Brasil, "tão pouco" seria quase visto como comunismo...
Folha - Seria a única analogia impossível entre eles e o Brasil?
Stark - Desigualdades que aqui não teriam consequências políticas seriam vitais na Europa do Leste. A massa de eleitores empobrecidos que pode bloquear ou estimular reformas sociais é mais significativa no Leste Europeu.
Folha - Como qualificar a transição que lá ocorreu?
Stark - Não foi uma passagem do público ao privado. Foi a aparição de uma combinação entre ambos, que dilui a divisa entre duas formas de propriedade.

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