São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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SOS dinheirama

JANIO DE FREITAS

Os jornalistas de política, quase todos identificados com as causas do governo em geral e de Fernando Henrique Cardoso em particular, desdenham o quanto podem o presidente do PMDB, Paes de Andrade, e os seus mais notórios acompanhantes na tese de candidatura própria do partido, contra o presidente-candidato. Paes de Andrade, porém, está vencendo todas as disputas contra os peemedebistas-fernandistas e agora mesmo, atingido por mais uma vitória sua, Fernando Henrique recorre ao extremo: abriu o cofre para os parlamentares.
A premência da contenção dos gastos, para conter o déficit governamental, foi o argumento servido aos parlamentares, e bem tolerado, para a retenção da verba proposta por cada um deles, teoricamente em benefício das respectivas bases eleitorais. É esta dinheirama que, estão sendo informados os parlamentares, Fernando Henrique mandou o ministro Antonio Kandir liberar.
O pretexto oficioso para a repentina generosidade não poderia ser o bom resultado nas contas do governo, que são desastrosas, mas a conveniência de conquistar a bancada governista para o esforço de aprovar a reforma administrativa. Há, no entanto, explicação mais sólida.
A tentativa, impulsionada pelo próprio Fernando Henrique, de antecipar para breve a convenção do PMDB, para decidir se o partido apoiaria ou não o presidente-candidato, fracassou depressa e por completo. Mas o prejuízo do fernandismo é maior ainda: as convenções regionais, que vão indicar delegados à convenção decisiva, estão demonstrando preferência muito grande pela candidatura própria contra Fernando Henrique.
É até possível que os governistas tenham alguma razão ao achar que o resultado se tornou tão negativo, nas convenções regionais, por falta de empenho dos parlamentares peemedebistas nas suas bases. Mas daí a concluir que a abertura dos cofres públicos os fará ativos e bem-sucedidos, na convenção nacional, não é uma garantia, é apenas insistir no método que tem caracterizado a ação política do governo.
Os parlamentares não-peemedebistas devem agradecimentos ao PMDB.
Casas de férias
O acordo dos presidentes do Senado e da Câmara, Antonio Carlos Magalhães e Michel Temer, para promover mudanças nos regimentos internos "e até na Constituição", com medidas que acelerem os processos de votação nas duas Casas e no Congresso, é como tomar uma ponte aérea no Rio para ir a Niterói via São Paulo.
O caminho para a eficiência é simples -e muito bem conhecido pelos dois. Consiste em acabar com o sistema ignóbil que permite aos parlamentares chegar ao Congresso a meio da terça-feira, na melhor hipótese para a atividade parlamentar, e dar a semana por encerrada quinta-feira, na pior hipótese para eles.
Afora uma ou outra atividade em comissão técnica, o Congresso parece estar em férias. Há semanas o plenário da Câmara é um deserto. Tal como a disposição dos dirigentes e dos líderes governistas de impor o regime de trabalho nas duas Casas.

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