São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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Senadores tentam limitar o caixa dos governadores

LYDIA MEDEIROS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O dinheiro das privatizações das centrais elétricas estaduais transformou-se em pivô de uma disputa entre PFL e PMDB e já chegou ao Palácio do Planalto.
Senadores pefelistas, candidatos em 98, têm tanta certeza do uso eleitoral desses recursos que estão pedindo o aval do governo para evitar a aplicação do dinheiro em obras que favoreçam a reeleição dos atuais governadores.
O presidente Fernando Henrique Cardoso tem pelo menos uma dificuldade em comprar essa briga e ficar ao lado dos pefelistas: precisa do apoio dos governadores do PMDB à sua reeleição e não deverá prejudicá-los.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), assumiu a defesa do partido e já cobrou uma solução de FHC. "Já fiz minha parte. O que não pode é continuar assim", disse ACM.
"Farra eleitoral"
A antecipação dos recursos da privatização das centrais elétricas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está beneficiando Rondônia, Rio Grande do Norte e Piauí, Estados cujos governadores integram a ala governista do PMDB. A revolta do PFL se repete em Mato Grosso, governado pelo PSDB.
O governador de Rondônia, Valdir Raupp, por exemplo, já admitiu que usará parte do dinheiro em obras que serão o carro-chefe de sua campanha à reeleição.
Na linha de frente do embate com o governo estão senadores pefelistas candidatos a governador: José Agripino (RN), Hugo Napoleão (PI), líder do partido, e José Bianco (RO).
O senador Júlio Campos (MT) também faz parte do time dos irritados por causa do dinheiro entregue ao governador tucano Dante de Oliveira.
"Esses governadores estão desgastadíssimos e agora querem promover uma farra eleitoral com esses recursos, transferindo a conta para as futuras gerações. A dívida do Rio Grande do Norte, há três anos, era de R$ 415 milhões. Hoje é de R$ 1 bilhão", afirmou Agripino.
Projeto Kleinubing
A fórmula apresentada pelo PFL para proibir o uso do dinheiro em obras eleitoreiras por seus adversários será votada hoje pela CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.
O projeto de resolução do senador Vilson Kleinubing (PFL-SC) estabelece que pelo menos 75% do dinheiro da venda das estatais tenha de ser usado na amortização da dívida pública.
"O governo federal foi excessivamente bom com os governos estaduais, notadamente com os do PMDB. O ideal é que esse dinheiro seja usado para amortizar a dívida, que é a única maneira de sanear os Estados", criticou Napoleão.
O presidente da CAE, senador José Serra (PSDB-SP), num sinal claro da posição do governo, não está convencido da viabilidade do projeto de Kleinubing.
"O controle desses gastos seria oportuno, porque há abusos. Mas temos que verificar a constitucionalidade da proposta. Além disso, haveria uma injustiça porque outros Estados já usaram esses recursos", afirmou Serra.
Retaliação
A primeira retaliação pefelista contra o governo pode vir de José Bianco. O senador é o relator do projeto de consolidação das dívidas de São Paulo na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e poderá atrasar seu trabalho.
Sem a votação desse projeto, o governo tucano de Mário Covas fica impedido de tocar, por exemplo, a privatização do Banespa.

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