São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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Irmã estimulou uso de coca e maconha

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Na favela de Manguinhos (zona norte do Rio), o consumo de bebidas e drogas por adolescentes e até por crianças é classificado como normal pelos mais velhos.
Nas "tendinhas" (pequenos bares) da favela, percorridas pela Folha na tarde de segunda-feira, jovens de ambos os sexos conversavam e bebiam cerveja.
"Gente dessa idade não é mais criança. Pode fazer o que quiser", afirmou a faxineira Deusdete da Silva, 37, mãe de três adolescentes.
A jovem que se identificou como Adriana, 15, disse que bebe cerveja e conhaque desde os 12 anos.
Foi na mesma época que começou a consumir cocaína, cola de sapateiro e cigarros de maconha, sempre estimulada pela irmã um ano mais velha.
Bailes funk
Adriana revela que, na companhia das amigas da favela, costuma "fazer a cabeça" antes de ir aos bailes funk, nas noites de sexta-feira, sábado e domingo.
Para ela, "fazer a cabeça" significa beber cerveja e "um quente" (conhaque), cheirar cocaína e fumar pelo menos um "baseado" (cigarro de maconha).
A bebida alcoólica costuma ser paga pelos meninos. "A gente é pobre. Vamos na 'aba' deles, que sempre têm um dinheirinho", afirmou Adriana.
Assim como o álcool, ela consome cocaína e maconha cedidas por amigos. "Sempre batem uma carreirinha para a gente", disse.
Estudante da 7ª série do 1º grau em um Ciep (Centro Integrado de Ensino Público) da área, Adriana afirma que o uso precoce de drogas não faz mal.
"Nunca perdi ano, estudo sempre e tiro boas notas. A gente faz a cabeça como diversão. Não dá para ir normal ao baile", afirmou Adriana.
Faculdade de pedagogia
Filha de um motorista de caminhão e uma telefonista, Adriana planeja cursar faculdade de pedagogia. "Adoro crianças. Quero ser professora", disse.
Se realizar o sonho de fazer o curso superior, Adriana afirma que deixará a favela, mas não os bailes funk, o álcool e as drogas.
"Não vejo nada de mal. Tem muito velho que cheira, fuma e está vivo", disse ela. (ST)

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