São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997 |
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O homem fará a diferença em Jerez
EDUARDO CORREA
A decisão do Mundial de Pilotos da F-1 no domingo, em Jerez de La Frontera, representa o drama central da categoria: homem ou máquina, o que é mais importante? A larga maioria acredita que a máquina é tudo. Resposta errada. O homem faz a diferença. Foi assim no passado, será assim depois de amanhã. O engano da maioria é coisa do final da década de 80. Provavelmente cansado das loucuras, erros e azares de Nigel Mansell -o piloto-ícone da Williams-, o projetista-chefe da equipe, Patrick Head, jurou criar um carro à prova de erros, em que o piloto simplesmente torceria o volante, aceleraria, frearia e espirraria o champanhe no final. O juramento de Head não tinha apenas motivação pessoal -na época, a F-1 trocava de vez a sua condição de esporte pela de negócio. Vencer tornou-se uma necessidade premente para executivos sedentos de exposição para as suas marcas e produtos. "O que você precisa para vencer?", perguntaram eles. "Dezenas de milhões de dólares e algum tempo para juntar as peças", respondeu o inglês. O cheque foi prontamente assinado. A ruptura da F-1 com a suspensão eletrônica no começo dos anos 90 tornou o sonho de Head mais difícil, mas ele não desistiu. Com o apoio da Renault, avançou mais, até levar aquele amontoado de chips, plásticos, metais, ligas raras e "stickers" de patrocinadores a um dos mais perfeitos artefatos da história do engenho humano. Mansell, então, pôde finalmente tornar-se campeão mundial e, depois dele, Alain Prost e Damon Hill. Dada a desproporção de talento entre os primeiros e o último, cristalizou-se a impressão de que o piloto fora reduzido à condição de passageiro. Não era bem assim. Em três das quatro últimas temporadas, Schumacher igualou no braço uma luta desigual. Conseguiu isso com um enorme talento, mas também porque é uma espécie de neo-Prost: frio, calculista, sortudo e desprovido de escrúpulos o bastante para fazer qualquer coisa para ganhar um campeonato, inclusive tirar o adversário da corrida com o equivalente automobilístico de um pontapé sem bola -como de fato fez na decisão do campeonato de 1994 e como tinha feito, em 1989, Alain Prost. (Ayrton Senna usou o mesmíssimo recurso para ganhar em 90, mas, pelo menos, tinha a desculpa da vingança.) Assim, chegamos a Jerez perguntando se Jacques Villeneuve, o passageiro da hora do Williams, terá habilidade suficiente para controlar os próprios nervos, além dos cavalos de seu carro, e bater Schumacher, se este compensará as deficiências do seu Ferrari ou se algum deles será torpe para usar de golpes baixos. Seja qual for a resposta, será o homem a fazer a diferença, e isso permanecerá sendo verdade mesmo em caso de vitória de Villeneuve. Ano passado, Damon Hill conseguiu o título com muito mais facilidade do que o canadense, caso eventualmente consiga o deste ano. Texto Anterior: Anteontem Próximo Texto: Atração de circo Índice |
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