São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fotógrafo Yevgueni Khaldei, testemunha da história

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Yevgueni Ananievitsch Khaldei, o repórter fotográfico da agência Tass que em 1945 criou um dos ícones mais famosos da Segunda Guerra Mundial, morreu no último dia 6, em Moscou.
Sua foto de dois soldados hasteando a bandeira soviética sobre as ruínas do Parlamento alemão é conhecida no mundo inteiro e foi reproduzida milhões de vezes em livros, jornais, revistas e até selos.
O fotógrafo, no entanto, jamais recebeu um centavo em direitos autorais e morreu numa miserável quitinete moscovita, que lhe servia como quarto, sala, câmara escura e arquivo de milhares de fotos e de negativos.
Só recentemente Khaldei recebeu alguma atenção, no Ocidente: uma grande retrospectiva de sua obra, intitulada "A Witness to History" (Uma Testemunha da História), foi organizada pelo Jewish Museum nova-iorquino, de fevereiro a abril deste ano.
Na verdade, a foto triunfal de Khaldei foi inspirada em outra, do americano Joe Rosenthal, feita no mesmo ano, que retrata fuzileiros navais norte-americanos erguendo a bandeira dos EUA sobre o Monte Suribachi, na ilha japonesa de Iwo Jima.
Em entrevista telefônica ao semanário nova-iorquino Forward, à época de sua exposição, Khaldei declarou: "Quando vi aquela imagem (a de Joe Rosenthal), decidi que, no instante em que chegasse a Berlim, faria um retrato semelhante da vitória soviética sobre o fascismo".
Ele efetivamente chegou a Berlim, e mandou os soldados hastearem uma bandeira, que ele mesmo improvisara antes de partir de Moscou, com seu tio alfaiate. Mas nunca foi recompensado.
Em 1948, a agência Tass o demitiu porque Stálin não queira mais judeus na imprensa oficial. Desde então, sobreviveu fazendo ampliações e fotografias para revistas menores.
Seu refinamento, que tem paralelos no cinema de Eisenstein, encontra expressão, por exemplo, em seu retrato de uma expedição de reconhecimento de soldados soviéticos em Murmansk, em 1941. Com suas longas capas, baionetas em punho, e diante da imensidão boreal da paisagem, eles parecem autênticas criaturas míticas.

Texto Anterior: Ontologia e esboço de antologia do tango
Próximo Texto: 'Sabedoria' é tema do ciclo de debates
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.