São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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Grupo ataca trens no Rio

A cavalo, eles atiram para o alto, param trem e levam carga

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Bandos formados por até 500 pessoas estão saqueando os trens de carga que passam em velocidade reduzida pela favela do Jacarezinho (zona norte do Rio).
Mulheres, crianças e idosos participam dos saques, que se transformaram na principal diversão dos favelados da área nas últimas semanas.
Os ataques aos trens -compostos por locomotivas e dezenas de vagões- se assemelham a episódios mostrados em filmes de faroeste. Montados em cavalos, líderes dos saqueadores do Jacarezinho emparelham com os vagões, disparando tiros para o alto, como forma de obrigar os maquinistas a parar a composição.
Nos últimos 40 dias, dois trens carregados de mercadorias foram saqueados por uma multidão comandada por homens armados de fuzis, pistolas e revólveres -o primeiro em 14 de setembro, um domingo, a um trem que carregava açúcar e o segundo no último sábado, a uma composição carregada de sacas de cimento.
No mesmo período, dezenas de outros trens foram atacados. Os saques só não se consumaram porque os integrantes da quadrilha fracassaram na tentativa de acionar o dispositivo externo que aciona o freio de emergência.
A Folha apurou na favela, na quarta-feira passada, que os saques são organizados por homens obedientes a Marcos Vinícius da Silva, o Lambari.
Silva é apontado pela SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado do Rio como o chefe do tráfico de drogas no Jacarezinho.
Os saques ocorrem sempre nas imediações da estação desativada de Vieira Fazenda, dentro da favela do Jacarezinho.
Como a região é densamente povoada, o trem, por lei, tem que passar em velocidade reduzida, com a sirene acionada.
Estratégia
A estratégia dos saqueadores consiste na abertura da torneira que regula a pressão de ar do trem. A torneira fica atrás do último vagão. Ao ser aberta, aciona o freio de emergência, parando o trem.
No ataque aos trens, enquanto um saqueador abre a torneira, outros, em cavalgada, atiram e ameaçam os dois maquinistas.
Um terceiro grupo arromba os lacres do vagões. Com o trem parado e as portas escancaradas, entra em ação o grupo mais numeroso.
A Polícia Militar informou que só agirá contra os saqueadores se receber da empresa MRS Logística S/A informações sobre os horários em que os trens de carga passarão pelo Jacarezinho, segundo o coronel Marcos Paes, comandante do 3º BPM (Batalhão de Polícia Militar).
O assessor de imprensa da MRS Logística, Rodrigo Barbosa, disse que não há como alertar a PM com antecedência por não haver uma regularidade de horários dos trens.

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