São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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A vez da Baixada

MARCELO DE AZEREDO

O arrendamento do Terminal de Contêineres do porto de Santos fez ressurgir diversas análises sobre o destino do maior complexo portuário da América Latina, desde os reflexos diretos na economia local até questões voltadas à administração e à influência do porto.
Entretanto, mais uma vez as análises não refletem a verdadeira importância do porto de Santos para a economia brasileira, tratando de aspectos superficiais. A começar pela destinação dos recursos obtidos no leilão do Tecon-1, os quais, depois de intensa gestão da diretoria da Codesp, permaneceram em sua plenitude em benefício direto do porto e, mais importante, na região da Baixada Santista.
Mesmo considerando a parcela destinada ao pagamento de tributos federais, vale dizer que tais recursos retornarão ao porto por meio da valorização de suas áreas e da aplicação, por conseguinte, de todas as demais receitas -surgidas diretamente na região- em benefício das empresas, trabalhadores e da economia regional, em vez de elas serem desviadas, em longos prazos, para o governo. Sem contar, evidentemente, que tais recursos vieram de outras áreas e regiões (o grupo vencedor não atua ainda na Baixada Santista).
Por outro lado, a maior parte desses valores ficará mesmo na região, sendo destinada ao desligamento de pessoal e à infra-estrutura básica. Em outras palavras, o porto de Santos estará se modernizando a partir de investimentos locais, sem destinação desses recursos para Brasília, como acontecia, por exemplo, com o Adicional da Tarifa Portuária, de triste lembrança.
Tais procedimentos significam uma importante vitória na luta pela valorização da região, pois estarão fomentando a roda da economia, que exige investimentos para o aumento das receitas. Sem contar a injeção de R$ 90 milhões na economia santista, que é a verba liberada pelo governo federal para a transferência dos trabalhadores em capatazia da Codesp para o órgão gestor de mão-de-obra -igualmente permanecendo na Baixada.
Esse novo ciclo de desenvolvimento por que passa o porto de Santos certamente desperta a atenção de muitos segmentos. Isso exige, por conseguinte, a presença reguladora do governo federal a conciliar os interesses dos diversos segmentos econômicos em atividade nos 17% do território brasileiro que compreendem o "hinterland" do terminal santista -este também responsável por 33% do comércio exterior do país.
Assim, entendemos que o modelo ora adotado e em plena execução pelo governo federal, transferindo as operações para a iniciativa privada e agilizando a estruturação da administradora (autoridade portuária), configura a forma mais adequada para todos os segmentos com interesse ou participação no porto. Essa fórmula vem sendo implantada também nos demais grandes portos brasileiros a partir da experiência santista.

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