São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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Belga debate papéis sexuais

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em "Minha Vida em Cor-de-Rosa", de Alain Berliner, a dúvida existencial de um garoto de sete anos se transforma na tragédia de seus pais.
O que incomoda a criança é não saber, ao certo, se nasceu um menino ou uma menina. Ou, na verdade, sabe, mas tenta negar a realidade em nome de um desejo: para todos ao redor ele é -fisiologicamente- um homem. Para sua sensibilidade, é uma menina.
É nessa situação que o filme belga irá se construir. Veremos a dúvida e a angústia dos pais, surgida nos mais banais momentos e na violenta condenação dos vizinhos.
Em um primeiro momento, "Minha Vida" se apresenta como um inteligente trabalho sobre os papéis sexuais.
Berliner faz do sexo -ainda que use uma criança como soldado- um campo de batalha, em que combatem as forças reacionárias e as dotadas de maior sensibilidade.
Nessa luta, que tanto agradou o público europeu, "Minha Vida" termina atingindo um outro alvo: pergunta não apenas o que é o sexo, mas também quem nos ensina "o que ele deveria ser".
Berliner fala obliquamente da família. Seu pequeno personagem reconhece que é diferente, considera a si mesmo um estorvo. Mas, ainda assim, ama seus pais.
Se evitarmos as sensações iniciais que o sexo revestido de tema sempre provoca, poderemos ver em "Minha Vida" uma fábula infantil que oferece metáforas sobre as crueldades do mundo adulto.
"Minha Vida" pode não ser cinematograficamente brilhante, mas é realizado com uma honestidade admirável.
(MR)

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