São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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Carlos Vergara abre sua "farmácia baldia"

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O projeto Arte/Cidade 3 já tinha um campeão de audiência: a instalação criada pelo artista carioca Carlos Vergara, nas indústrias Matarazzo. Isso porque, mesmo antes de inaugurado, o trabalho já despertava interesse dos trabalhadores do local.
Ligado à fitoterapia (tratamento de doenças com plantas), Vergara percebeu, em uma de suas primeiras visitas ao local, a incidência de plantas com fins terapêuticos.
O passo seguinte foi chamar um amigo paisagista, Oscar Bressane, que realizou um levantamento de 52 espécies de plantas no local, como jurubeba, quebra-pedra, abacateiro e outras.
Em seguida, contactou o departamento de botânica da USP, que se dispôs a visitar o local e identificou mais 30 espécies, grande parte delas com algum uso medicinal. "Percebi nas plantas um roteiro que me interessava e pensei então em montar, poeticamente, uma farmácia baldia", disse Vergara.
O passo seguinte foi localizar no terreno a incidência das plantas e identificar os locais com grandes estandartes de bambu e um código simplificado de cores, de acordo com seu fim terapêutico. O sistema respiratório, por exemplo, foi identificado com a cor azul; o circulatório, com o vermelho; e o digestivo, com o preto.
A farmácia de Vergara termina aí. O departamento de Botânica da USP coletou 32 das plantas do local, classificou-as, secou-as e prensou-as para armazenamento. Serão dispostas atrás de vidros que lembram os de uma farmácia tradicional, mas que remetem à farmácia de uma obra conceitual, já que guardam também seus nomes pintados na parede.
Doze delas serão privilegiadas e mantidas, secas, presas em arcos de ferro no centro da instalação, que se completa com uma série de ilustrações retiradas de um livro de medicina caseira que mostra as mazelas do corpo. As ilustrações circundam uma pichação que já existia no local e que representa um coração.
A farmácia de Vergara estabelece relações ainda com o fluxo da estrada de ferro, já que muitas das plantas encontradas no local não são nativas do Brasil, mas da África, Europa e Ásia, e com a marginalidade em que as indústrias Matarazzo se encontravam. "Quis mostrar que essa área baldia ainda guarda tesouros da cidade, mas que, por preconceito, são marginalizados, assim como esse tipo de medicina", disse.
(CF)

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