São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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Oposição acusa governo argelino de fraude

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ARGEL

O presidente da Argélia, general Liamine Zeroual, obteve uma vitória tão expressiva quanto contestada nas eleições locais de anteontem. "Fraude" e "golpe" foram as palavras mais brandas ouvidas das fileiras da oposição.
Às 8h de ontem (5h em Brasília), o Ministério do Interior detonou a série de protestos ao anunciar a taxa de comparecimento às eleições: 66,19% dos 15,8 milhões de eleitores teriam comparecido às urnas.
O problema é que o próprio ministério havia divulgado na noite de anteontem que o comparecimento estava na casa dos 55,87%, o que representaria a maior abstenção dos sete anos de história eleitoral argelina.
"Isso é um golpe. Testaram a reação das agências internacionais (de notícias) e, quando viram que era desfavorável, mudaram os dados durante a noite", disse em comunicado o porta-voz do Reunião pela Cultura e Democracia (partido laico e socialista).
Justificativa
Segundo o ministro do Interior, Ben Mansur, os 55,87% foram uma avaliação precipitada, baseada em dados incompletos de uma hora antes do fim da votação.
Anteontem, a Folha visitou cinco postos eleitorais de Argel. Em todos os locais o comparecimento era mínimo.
Depois do terremoto político da taxa de abstenção, a confirmação do esperado: o partido de Zeroual, a RND (Reunião Nacional Democrática), ganhou quase metade dos votos na quinta-feira, somando 5,5 milhões de eleitores.
O MSP (Movimento por uma Sociedade Pacífica), maior partido islâmico moderado do país, divulgou nota contestando o resultado. Antigo Hamas (acrônimo para o árabe Movimento da Sociedade Islâmica), o MSP reclamou de manipulação e intimidação de seus fiscais durante a apuração dos votos.
O MSP é o partido que abocanhou o antigo eleitorado da FIS (Frente Islâmica de Salvação), agremiação que em 1990 e 1991 dominou as eleições na Argélia.
Por temor da islamização da Argélia e da perda do poder estabelecido, um golpe militar em 1992 pôs a FIS na ilegalidade. Isso gerou o atual estágio de guerra civil no país, que matou entre 60 mil e 100 mil pessoas. O partido teve cerca de 1 milhão de votos anteontem.
Em segundo lugar, a surpresa: a FLN (Frente de Libertação Nacional), que fundou o Estado argelino em 1962, encabeçou um regime de partido único até 1989 e foi humilhada nas urnas em 1990 e 1991, confirmou seu ressurgimento eleitoral apontado no pleito legislativo de junho passado e emplacou 2 milhões de votos. Ainda assim, a FLN criticou o que chamou de constrangimento aos seus delegados durante a apuração de votos.

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