São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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Espanha confina imigrantes na África

DA REDAÇÃO

Na esperança de imigrarem para a Europa, negros africanos, de várias partes do continente, vivem em verdadeiros guetos para estrangeiros nas cidades espanholas de Ceuta e Melilla.
As duas cidades estão encravadas em solo africano, na costa do Marrocos, e servem como filtro entre a miséria africana e a prosperidade européia.
Os imigrantes vêm de países tão distantes quanto a Zâmbia, no centro-sul da África. Eles geralmente viajam em pequenos grupos, a bordo de caminhões, ônibus e caminhonetes. Quando chegam perto do Marrocos ou da Argélia (próxima a Melilla), cruzam a fronteira clandestinamente, caminhando. De acordo com o relato da maioria deles, o último trecho da viagem -cerca de 200 km, se vão para Melilla; cerca de 400 km, se vão para Ceuta- é feito a pé, para economizar o que sobrou do dinheiro. Ele será usado para subornar as autoridades marroquinas, que assim permitem que eles entrem nas cidades espanholas.
Para um senegalês, por exemplo, sua longa jornada o leva até Mali e Níger, de onde ele entra na Argélia pelo deserto do Saara. De lá ele segue até Argel (capital argelina) e depois até a fronteira com o Marrocos, entrando secretamente no país pelas montanhas da região.
As condições nos campos para os refugiados são precárias. Os "privilegiados" conseguem lugar nos galpões que servem como abrigo. O resto vive em barracos ou dentro de carros convertidos em casas.
Perto do aeroporto de Melilla está o campo chamado "Granja Agrícola". Uma antiga fazenda, seus galpões, projetados para abrigar 500 pessoas, hoje têm 1.062. Seu orçamento anual é de US$ 55 mil, incluindo todas as despesas.
Os imigrantes ficam nos campos esperando transferência para a Espanha européia. São transferidos em grupos de 20 a 50 pessoas e recebem certificado de residência na Espanha.
Em junho de 1996, as autoridades espanholas fizeram uma tentativa de extraditar alguns imigrantes para seus países de origem. A mídia relatou que um grupo foi aparentemente drogado pelas autoridades. Quando os imigrantes acordaram, estavam algemados num avião rumando para vários países africanos.
A exposição na mídia causou uma reação negativa do público e o governo abandonou a iniciativa. De qualquer forma, das dezenas de pessoas deportadas na ocasião, pelo menos 23 já estavam de volta a Melilla em setembro deste ano.
Sebastião Salgado é considerado o principal fotógrafo documental do mundo. Ele é formado em Economia e vive em Paris. Ele vem fotografando os fluxos migratórios em todo o mundo.

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