São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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Veja a importância do país

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL

São dois os fatores, ligados umbilicalmente, que fizeram da última eleição argelina uma notícia de repercussão internacional.
O primeiro é político-econômico, uma vez que a Argélia exporta quase US$ 10 bilhões todos os anos em gás e petróleo para a União Européia, conjunto de 15 países que baseia boa parte de sua produção industrial nesses combustíveis. E não só os europeus: os EUA, o Japão e o Brasil são também grandes compradores do petróleo argelino.
O Brasil comprou US$ 500 milhões do produto no ano passado, vendendo apenas US$ 60 milhões em carros, açúcar e fumo para a Argélia, o segundo maior país africano, atrás apenas do Sudão.
Até 1992, quando ocorreu o golpe que pôs os extremistas islâmicos na clandestinidade, a Argélia levava vantagem como fornecedora de combustíveis fósseis. O país fica mais próximo da Europa, a apenas 300 km da costa espanhola, barateando o transporte do produto exportado.
Como ex-colônia francesa, os vínculos comerciais já eram tradicionais. E a estabilidade política, que nunca foi grande, era maior do que a do Oriente Médio -outro importante fornecedor de petróleo e gás.
'Novo Irã'
O medo da criação de um Irã na África do Norte, ou seja, de uma república fundamentalista islâmica a poucos quilômetros de seu território, fez a União Européia, e a França em especial, apoiar veladamente o regime militar instalado em 1992 sob a liderança do presidente Mouhamed Boudiaf. Em junho do mesmo ano, Boudiaf foi morto em um atentado atribuído aos extremistas islâmicos. Ao atentado seguiu-se uma contra-ofensiva do governo, com a prisão e morte de milhares de ativistas muçulmanos.
Liamine Zeroual, que subiu ao poder em 1994, foi confirmado como presidente numa eleição controversa, em 1995. A votação parecia indicar, para os países do Ocidente, a redemocratização na Argélia. Parecia, porque a violência só recrudesceu de lá para cá.
Aí entra o segundo componente de atração. Com os grandes massacres de Sidi Rais e Bentalha, há poucos meses e nos quais mais de 500 pessoas foram mortas, cresceu a sensibilização da mídia ocidental para o problema argelino. A opinião pública da Europa começou a questionar a posição de seus governos frente ao conflito, o qual está ligado em seu princípio à herança colonial européia e à política pós-descolonização.
A foto da mulher procurando seu parente morto após o massacre de Bentalha, conhecida como Madonna argelina, acabou cristalizando-se como ícone desse renovado interesse -ou sentimento de culpa.
(IG)

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