São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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Crise asiática afeta clima eleitoral argentino

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O que a mídia argentina chama de "efeito dragão" (a sequelas da crise em Hong Kong) bateu em cheio na antevéspera da eleição legislativa de amanhã e machucou mais do que a Bolsa de Valores.
Esta perdeu 9,25% no acumulado dos dois últimos dias. Mas o ricochete politicamente mais importante pegou, pelo menos de raspão, o sistema cambial, já que a Argentina é um dos poucos países do mundo que, como Hong Kong, adota o modelo que os especialistas chamam de "currency board".
Na prática, significa que a cotação do peso, a moeda argentina, assim como do dólar de Hong Kong, se mantém permanentemente fixa em relação ao dólar norte-americano.
Em Hong Kong, US$ 1 vale 7,80 dólares de Hong Kong há 14 anos. Na Argentina, US$ 1 é igual a 1 peso desde abril de 1991.
Foi essa âncora cambial que permitiu ao governo Menem derrubar a inflação para um patamar de país desenvolvido ou até menos (foi zero em setembro e deverá voltar a ser zero este mês).
Mas, como analisa o jornal "El Cronista", a crise na Ásia mostra que "nenhum sistema de conversão, mesmo os que parecem sólidos como uma rocha, está livre de ataques especulativos". O sistema argentino "tende a ser o mais afetado na América Latina", na opinião do brasileiro Armínio Fraga, ex-diretor do Banco Central e hoje executivo do grupo George Soros, um mega-investidor.
Mesmo uma autoridade do Ministério de Economia, o vice-ministro Carlos Rodríguez, admite que "é preciso superar o temporal". Mas, como convém a uma autoridade em momentos de tensão, Rodríguez garante que "não há razões para que ocorra na Argentina o que ocorreu na Ásia".
Em termos de Bolsas, o "temporal" significou uma queda, na quinta, de 4,88%, a terceira maior do mundo, atrás de Hong Kong e São Paulo. Ontem, a Bolsa argentina operou em ambiente de extremo nervosismo e volatilidade e a queda acabou sendo pouco inferior à da véspera (4,17%). Alberto Términe, gerente financeiro de um fundo de pensões, diz que "o mercado ficou ferido e vai levar tempo para recuperar a confiança".
Em 1995, a Argentina já havia sofrido efeitos devastadores de uma crise externa, no caso a mexicana: a economia retrocedeu 4,6% em consequência do que então se chamou "efeito tequila".
Mesmo assim, o presidente Menem conseguiu se reeleger já no primeiro turno, obtendo 49% dos votos. Agora, no entanto, o "efeito dragão" incide sobre um panorama eleitoral que é desfavorável ao governo (ver texto abaixo).

LEIA MAIS sobre a crise as Bolsas às págs. 2-1 e 2-5

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