São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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MANOBRAS NO CONGRESSO

O presidente da Comissão de Orçamento, senador Ney Suassuna (PMDB-PB), agiu de maneira estranha, para dizer o mínimo, ao evitar que o relatório do seu colega Jefferson Peres (PSDB-AM) sobre os gastos do governo Fernando Henrique Cardoso fosse votado anteontem.
O texto de Peres, embora favorável à aprovação das contas do governo em 96, faz restrições às despesas de estatais e condena a diminuição de verbas nas áreas de educação e saúde.
Para inviabilizar a votação, Suassuna telefonou a Peres informando-lhe que não haveria sessão; a seguir, abriu a sessão e a encerrou a toque de caixa alegando que não poderiam votar nada porque o relator estava ausente. O mínimo que se pode dizer do comportamento do notório senador é que foi extremamente aético. Não tivesse sido detectada pela imprensa, a manobra baixa passaria incólume. Suassuna chegou até a intimidar jornalistas, dizendo que estavam "fuçando onde não deveriam fuçar". Os líderes governistas no Congresso pretendem agora negociar a supressão das restrições ao governo do texto de Peres, que deverá ser votado apenas dentro de 15 dias.
Afora essa sequência de procedimentos inescrupulosos, remanesce o fato substantivo: o governo FHC reduziu os gastos em duas áreas sociais onde há enormes carências -e que figuravam entre as prioridades de seu programa eleitoral. Não é tolerável que parlamentares, governistas ou não, omitam da opinião pública essa realidade.
Diga-se ainda, no capítulo das ironias involuntárias, que, na mesma semana em que a Comissão de Orçamento teve atuação tão condenável, o Senado realizou uma exposição intitulada "O Senado e os senadores". Criada com a intenção de divulgar o trabalho dos parlamentares, ela foi usada por alguns deles para exibir objetos pessoais ou típicos, tais como retratos pintados a óleo, pares de sandálias franciscanas e chapéus de boi-bumbá. Ainda que seja um fato menor, a exposição é um indício de que muitos parlamentares não têm noção da dignidade que o exercício de suas funções exige. Ney Suassuna está aí para confirmá-lo.

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