São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Estrangeiros têm 62,5% do setor elétrico

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

As empresas estrangeiras dominam os investimentos em privatizações de estatais de energia elétrica brasileiras: garantiram 62,5% dos R$ 8,8 bilhões já gastos no setor e detêm o controle acionário de 4 das 7 companhias que passaram para a iniciativa privada desde 95.
A campeã de investimentos é a norte-americana AES Corporation. Só para privatizações no setor elétrico, ela destinou cerca de R$ 2 bilhões. Isso representa 36,2% dos R$ 5,5 bilhões investidos pelas empresas estrangeiras.
Nos R$ 8,8 bilhões levantados até agora, não está computado R$ 1,3 bilhão relativo à venda de 33% do capital da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), que continua sob controle estatal.
Na Cemig, os estrangeiros também foram maioria, comprando 90% das ações colocadas à venda. A AES tem 14,4% da companhia -um investimento de pouco mais de R$ 500 milhões.
Mercado
Para os especialistas, a presença estrangeira é resultado do aumento da confiança no país aliado à expectativa de expansão do mercado interno na área elétrica.
"No Rio Grande do Sul, a perspectiva de crescimento do mercado de energia é de 7% ao ano, enquanto nos países desenvolvidos o percentual não chega a 1%", afirma o secretário da Energia, Minas e Comunicação do Estado, Assis de Souza, que comemorou na semana passada a obtenção de ágio recorde na venda de duas distribuidoras de energia.
Isabel Bresser, analista do setor elétrico da Fator Corretora, lança mão dos indicadores de consumo "per capita" de energia para demonstrar o potencial de expansão do mercado interno.
No Brasil, o consumo médio é de 1.681 MW/h. Nos Estados Unidos, o indicador é 12.544 MW/h. No Chile, 1.806 MW/h. Em sua opinião, esses números e o grande interesse dos investidores mostram que o país tem muita demanda e pouca oferta de energia.
Ágio
O número de concorrentes nos leilões de estatais elétricas tem tido aumento quase constante. Eram dois na venda da Escelsa (Espírito Santo Centrais Elétricas), a primeira do setor, realizada em 95.
Na semana passada, havia seis grupos disputando o controle das duas distribuidoras de energia do Rio Grande do Sul, um recorde em leilões do setor.
O principal efeito da competição acirrada foi o aumento do ágio na privatizações. O leilão da Coelba (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia), no dia 31 de julho, alcançou ágio de 77,38%, índice inédito até então.
Dois meses depois, o ágio foi de 43,49% na venda da hidrelétrica Cachoeira Dourada, de Goiás.
Na semana passada, a AES comprou a distribuidora gaúcha Centro-Oeste por R$ 1,51 bilhão e pagou o maior ágio de todas as privatizações do setor: 93,55%.
A Norte-Nordeste foi vendida por R$ 1,635 bilhão e ágio de 82,62% para o consórcio formado por VBC Energia, Previ e Comunity Energy Alternative (EUA).
Apetite em alta
Marcelo Audi, analista do setor elétrico da Merrill Lynch, acredita que tende a aumentar a presença de grupos estrangeiros nas privatizações do setor. "O ágio no Sul mostrou que continua alto o apetite por elétricas brasileiras."
O secretário Assis de Souza, que também é presidente do Conselho Diretor do Programa de Reforma do Estado, identifica crescimento especial no interesse de empresas dos Estados Unidos. Isso ficou claro na venda das distribuidoras gaúchas -tanto entre vencedores quanto entre perdedores.
A CMS Energy (EUA) deu lance de R$ 1,335 bilhão para a Norte-Nordeste e de R$ 1,255 bilhão para a Centro-Oeste. Derrotada, é agora uma das principais concorrentes na disputa pela CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), que será leiloada dia 5.
Os outros concorrentes também tinham presença estrangeira -total ou parcial- em seu capital.
A belga Tractebel entrou no leilão sozinha e ofereceu um pouco menos que a CMS: R$ 1,31 bilhão pela Norte-Nordeste e R$ 1,15 bilhão pela Centro-Oeste.
As outras duas interessadas eram a Cerj (Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro), que é controlada pela chilena Chilectra, e Escelsa, na qual os grupos estrangeiros Citibank e Perez e Companc (Argentina) têm pequena participação.

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