São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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CPFL pode superar R$ 3 bi, diz secretário

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

David Zylbersztajn, secretário de Energia de São Paulo, está a dez dias da venda da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), o primeiro grande lance do processo de privatização do Estado.
Em entrevista à Folha na semana passada, Zylbersztajn disse que acredita na venda da CPFL por mais de R$ 3,1 bilhões, valor obtido na privatização de duas distribuidoras de energia gaúchas.
A seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha - A que o sr. atribui o aumento crescente na disputa por estatais de energia elétrica?
David Zylbersztajn - No setor elétrico o investimento é altamente intensivo e o tempo de retorno é longo. Por isso, há necessidade de regras bem claras e duradouras. Quanto menor o risco, maior a disposição de alguém investir.
O que está acontecendo é isso. Desde o início de 95, foram estabelecidas regras claras para o setor.
Além disso, para investimentos de longo prazo você precisa de estabilidade econômica, estabilidade política e mercado. Entre as regiões emergentes, quem consegue reunir as três variáveis é a América Latina. Dentro da América Latina, o Brasil é o grande potencial que une as três variáveis.
A CPFL tem um mercado maior que o do Chile inteiro. A Eletropaulo, sozinha, tem um mercado maior que o da Argentina inteira. Folha - Qual sua expectativa de ágio para o leilão da CPFL?
Zylbersztajn - Isso é relativo e depende muito de como você estabelece o seu preço mínimo.
Folha - As duas distribuidoras gaúchas privatizadas na semana passada saíram por R$ 3,1 bilhões. O sr. acredita que o preço da CPFL será maior?
Zylbersztajn - Acho que tem chance de ser maior. Mas na realidade a participação do Estado nas empresas era maior. Eles também tiveram um belo ágio. Se tivermos metade do ágio deles já será suficiente para passar isso aí.
Folha - O que vai acontecer com as tarifas? A tarifa da CPFL passou de R$ 48,7 MW/h em 93 para R$ 85,4 MW/h hoje.
Zylbersztajn - O que é ótimo, porque mostra que não há correlação entre privatização e aumento. Tanto não há, que a tarifa quase dobrou com a empresa estatal.
Folha - Mas não dobrou justamente para sanear a empresa e prepará-la para a privatização?
Zylbersztajn - De jeito nenhum. A tarifa começou a crescer em abril de 93, quando não se falava em privatização. O salto foi de 93 para 94, quando houve uma recuperação tarifária progressiva.
A tarifa era aviltada. Havia uma posição demagógica de controlar a inflação por meio das tarifas. Com o tempo essa política foi descapitalizando as empresas e fazendo com que elas piorassem os serviços.
Folha - O que vai acontecer com as tarifas depois da privatização?
Zylbersztajn - O patamar tarifário atual é o que vai vigorar pelos próximos quatro, cinco anos. Depois, a tendência é cair, porque vai haver competição na distribuição e na geração. É o tempo de maturação de novos investimentos.
Folha - A presença de empresas estrangeiras nas privatizações do setor tem sido muito expressiva. Não se corre o risco de uma desnacionalização do setor elétrico?
Zylbersztajn - Esse pessoal está entrando com capital. Eles estão dando empregos para brasileiros, estão investindo dinheiro de fora no Brasil, estão prestando serviços para brasileiros. Eu acho que tem de ter empresas brasileiras sempre, mas que risco que nós temos no caso? E eles também têm parceiros nacionais aqui.
O setor elétrico gera muitos excedentes, principalmente de capital. E com esse excedente você vai buscar rentabilidade em outros lugares.

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