São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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OMC é saída para disputa comercial, afirma Levitsky

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Melvyn Levitsky, 59, acha que o caminho natural para dois países que não se entendam sobre questões comerciais é recorrer à Organização Mundial de Comércio (OMC).
Cita o caso em que o Brasil e a Venezuela protestaram na OMC contra exigências dos EUA sobre a composição de combustível exportado para lá. Os EUA tiveram de recuar. Para o diplomata, é natural que aumentem as disputas comerciais entre países como o Brasil e os EUA.
Sobre a recente visita do presidente dos EUA, Bill Clinton, ao Brasil, Levitsky acha que foi um sucesso. Considera superado o mal-estar causado pelos pedidos norte-americanos relacionados ao esquema de segurança da viagem.
Ao comentar o documento de seu governo que apontava "corrupção endêmica" no Brasil, disse que considerou a expressão equivocada. Mas que esse assunto continuará a ser tratado em futuros relatórios.
Há três anos e meio no Brasil, Levitsky se prepara para ficar até o segundo semestre do ano que vem. O Senado dos EUA se atrasou no processo de nomeação de seu substituto. E Bill Clinton não quer que o Brasil fique sem embaixador definitivo. A seguir, os principais trechos da entrevista que o diplomata concedeu à Folha, em português, no final da tarde de sexta-feira.
*
Folha - O sr. acha que houve uma cobertura jornalística adequada da visita do presidente Clinton?
Melvyn Levitsky - Eu acho que a cobertura foi ampla. Bem, podemos ver o que nossa imprensa (dos EUA) enfatizou. Das 5 ou 6 perguntas que fizeram, 4 foram sobre assuntos do México e EUA.
Folha - Sobre a visita propriamente. Qual o balanço que o sr. faz?
Levitsky - Bem, a visita foi muito positiva. Quase perfeita.
Folha - Quase?
Levitsky - Vamos dizer perfeita. É um costume americano nunca dizer "perfeito". Quero dizer que o presidente teve a oportunidade de falar durante muito tempo com o presidente Fernando Henrique, durante as reuniões. Estiveram a sós e isso foi muito importante.
Não discutiram só assuntos bilaterais. Mas, por exemplo, Oriente Médio. O Brasil e os Estados Unidos têm interesse lá. Falaram também sobre África do Sul.
Folha - Ficaram esclarecidas as posições dos dois países sobre a formação de blocos comerciais e quais são as prioridades?
Levitsky - O seu presidente disse que continuará a trabalhar para consolidar o Mercosul, mas que simultaneamente trabalhará na Alca. Eu acho que isso expressa a nossa política também. Não nos opomos ao Mercosul. Acreditamos que o Mercosul é uma organização que amplia o comércio.
É interessante que o nosso investimento direto no Brasil seja de US$ 26 bilhões. Isso é a metade de todo o investimento norte-americano na América do Sul. Na privatização, os investidores norte-americanos têm 15% do total. E 54% do total estrangeiro.
Folha - O Brasil tem contestado as restrições dos EUA sobre as exportações de aço brasileiro. Houve algum avanço nessa área?
Levitsky - São coisas complicadas. Dependem de nosso sistema judicial ou da lei brasileira. Mas não há barreiras só do nosso lado.
Por exemplo, 28% das exportações brasileiras que entram nos Estados Unidos o fazem sem tarifa alguma. Isso acontece por causa do nosso sistema geral da preferência.
Mas temos que negociar. E vamos negociar. Eu vou lhe dar um exemplo. O Brasil e a Venezuela levaram os EUA à OMC sobre o assunto da gasolina. O caso de combustível que não agride ao meio ambiente, como exigem no meu país. O Brasil e a Venezuela ganharam. Nós mudamos nosso sistema.
Folha - Houve um ajuste.
Levitsky - Houve um ajuste. Temos um sistema, que é a OMC. Quando há disputas e os dois lados não podem resolver, tem a OMC. Nós também temos queixas sobre o regime automotivo do Brasil. E estamos tendo diálogo sobre isso.
Folha - O sr. considera natural que um país recorra a OMC quando sentir que não há progressos na conversa bilateral?
Levitsky - É natural. Eu acho que é melhor quando os dois países possam resolver o problema sem recorrer à OMC. Mas é normal. Como neste caso que mencionei do Brasil e da Venezuela.
Folha - A que o sr. atribui os problemas relacionados à segurança do presidente Clinton?
Levitsky - Eu sei que a segurança para um presidente nosso parece aos outros muito rígida, muito autoritária. Mas nós temos uma história muito amarga, por isso o nosso sistema é rígido. Não foi discriminação contra o Brasil.
Folha - Houve também o documento que relatava a situação interna brasileira. Qual a sua avaliação sobre esse episódio?
Levitsky - Eu aceito toda a responsabilidade porque foi escrito aqui. Quem escreveu não consultou o dicionário sobre a palavra "endêmica". A frase era errada.
Folha - Nos próximos relatórios, será tratada a corrupção no Brasil?
Levitsky - Vamos ler com muito cuidado. Já temos no relatório de uma outra seção uma descrição muito mais adequada. Menciona corrupção como um problema, mas também fala dos esforços do governo para combatê-la.

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