São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Shoppings 'prometem' infernizar cariocas

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O início de construção de um shopping center no Leblon (zona sul do Rio) é um exemplo de obra que, embora autorizada, vem causando transtornos à vizinhança e gerando polêmica nessa área de alto poder aquisitivo da cidade.
A polêmica ganhou maior dimensão devido a dois outros projetos de construção de shoppings previstos para menos de dois quilômetros de distância: os dos clubes do Flamengo e do Jockey, ambos no bairro vizinho da Gávea.
Embora esses dois ainda não tenham sido aprovados, e o do Leblon esteja sendo contestado na Justiça, a possibilidade de construção de três shoppings em uma região já saturada de veículos anda preocupando moradores.
"Vai ficar um engarrafamento brutal. Eles querem arrasar com o nosso bairro", diz o presidente da Ama-Leblon (Associação de Moradores e Amigos do Leblon), João Fontes, 55, um dos líderes da campanha que reuniu 10 mil assinaturas contra os shoppings.
As direções do Jockey Club, do Flamengo e da construtora Santa Isabel são unânimes em dizer que os três projetos não trarão transtornos aos bairros.
Com o início do desmonte de rocha na esquina da avenida Afrânio de Mello Franco com rua Professor Antônio Maria Teixeira, para a construção até o ano 2000 do shopping do Leblon, o barulho transtornou a vida da vizinhança.
Para Fontes, o barulho atual é apenas o prenúncio do caos que poderá ser instalado se os três shoppings forem construídos.
Orçado em R$ 50 milhões e prevendo cerca de 200 lojas, cinemas, teatro e centro cultural em prédio equivalente a dez pavimentos, o shopping no Leblon atrairia pelo menos 10 mil pessoas por dia.
O do Flamengo prevê investimentos de US$ 80 milhões na construção de prédio equivalente a sete andares, com cerca de 300 lojas e dez cinemas, onde hoje é o campo de futebol do clube. Atrairia cerca de 60 mil pessoas por dia.
Com investimento estimado em US$ 100 milhões, o Jockey Center teria um andar subterrâneo à pista de corridas de cavalos, com cerca de 160 lojas, e atrairia um fluxo diário de 7.000 veículos.
Projeto de lei para alterar a legislação do uso do solo da área, para permitir a construção do Jockey Center, "está dormindo" na Câmara Municipal, mas, segundo o vereador Edson Santos (PT), "a qualquer hora pode sair".
Santos encabeça ação popular contestando um decreto municipal de 92 que alterou o zoneamento urbano de parte do Leblon para permitir a construção do shopping. Para ele, mudança de zoneamento dependeria de uma lei.
O diretor da construtora Santa Isabel, Creston Fernandes, 47, afirma que o decreto é legal. A Justiça ainda não julgou a questão.
Como a área da sede do Flamengo foi doada pelo governo Getúlio Vargas, nos anos 30, para uso esportivo e social, o clube precisa agora da aprovação do governo estadual para viabilizar o shopping.
Projeto de lei do líder do governo na Assembléia Legislativa, deputado Paulo Melo (PSDB), proibindo qualquer alteração no uso da área, pode ser votado até dezembro. "Se depender de mim, esse shopping será apenas um sonho", diz.

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