São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Ex-bancários viram sócios em loja

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cláudio José de Souza esperava fazer carreira no banco. Sandra Miranda nunca pensou nessa hipótese. Com sonhos diferentes, suas vidas se cruzaram por 18 anos em uma única instituição: o Banespa.
Hoje, a vida dos dois ainda continua ligada. Sandra e Cláudio são sócios de uma loja em São Paulo que vende produtos para alérgicos. O Banespa não faz mais parte dessa história.
Depois da intervenção do Banco Central, em 94, ambos resolveram aderir ao PDV (Programa de Demissão Voluntária). Ele saiu do Banespa em 95. Ela, no ano seguinte. Outras 3.265 pessoas seguiram igual caminho.
Com parte dos cerca de R$ 40 mil que receberam, resolveram investir em um negócio. A Casa dos Alérgicos, como se chama o empreendimento, está de pé há três meses.
Sandra, 39 anos, formada em jornalismo, parece não se arrepender da decisão. "Tenho um carinho muito grande pelo Banespa, mas vi que a perspectiva no trabalho não era boa."
Trabalhasse em qualquer outro banco e as perspectivas de Sandra continuariam não sendo boas. A função que exercia no Banespa -escriturária- é uma das mais atingidas pelo processo de automação bancária.
Alcinei Rodrigues, técnico da subseção do Dieese no Sindicato dos Bancários de São Paulo, afirma que funções de "retaguarda" -como escriturário e auxiliares-, apesar de ainda representarem 40% dos empregos bancários, tendem a desaparecer com o tempo.
"Funções mais mecânicas foram as que mais sofreram com a chegada dos caixas eletrônicos e dos 'home-banking"', diz.
A informatização -uma das causas da destruição de 314 mil empregos no setor nos últimos sete anos- favorece os cargos com salários mais altos.
Segundo Rodrigues, a proporção de gerentes em relação ao total de empregados subiu de 5% para 12% no período. "O perfil do bancário é cada vez mais o de um gestor de informação."
Fazer parte desse grupo era o sonho de Carlos. Aos 38 anos, sem ter completado dois cursos superiores que iniciou, acabou desistindo. "Valeu ter montado o negócio. Daqui a um tempo, espero estar ganhando mais do que no Banespa." Carlos ganhava R$ 2.600 como supervisor. Sandra recebia R$ 1.000.

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