São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Presença estatal na Bolsa alcança 67,5%

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Bolsa de Valores, em todo o mundo quase um sinônimo de iniciativa privada, continua se movendo a combustível estatal no Brasil.
A conclusão é de uma pesquisa da empresa de software Economática, que levantou a participação acionária nessas empresas e calculou o valor de mercado de cada uma delas com base nas cotações em Bolsa no dia 22 de outubro.
As 42 estatais valiam US$ 222 bilhões pelas cotações de mercado no dia 22, e as 265 particulares, US$ 107 bilhões. Do número de empresas, só 13,68% eram do Estado, mas respondiam por 67,5% do valor total.
Na realidade, a Bolsa está longe de espelhar a economia do país. Prova disso é que o grupo Votorantim, o maior privado do país, não tem ações negociadas no mercado.
Para Fernando Exel, presidente da Economática, mais impressionante ainda é a participação das ações de estatais no volume negociado diariamente nas Bolsas.
Em setembro passado, enquanto 296 ações de 265 empresas privadas movimentaram US$ 1,7 bilhão na Bovespa, 70 papéis das 42 estatais pesquisadas giraram mais de US$ 11 bilhões.
Telebrás lidera
O carro-chefe nos pregões continua sendo a Telebrás. Por isso mesmo, as ações dessa megaestatal têm o maior peso no Índice Bovespa, o principal termômetro do mercado acionário no Brasil.
Na última quinta-feira, quando os papéis da Telebrás e suas subsidiárias estiveram fora do pregão devido à entrevista do ministro Sérgio Motta sobre o modelo de privatização, a queda da Bolsa era de 2,6%.
A partir das 14h30, quando as "teles" voltaram a ser negociadas, o Ibovespa desabou e fechou com queda de 8,15%.
Esse movimento pouco teve a ver com a situação da estatal, pois a influência negativa veio de milhares de quilômetros, de Hong Kong. Mas Telebrás sempre acaba influenciando o vaivém da Bolsa.
Fernando Exel lembra que, no levantamento, não foram consideradas públicas as companhias controladas por fundos de pensão de funcionários de estatais, como Previ (Banco do Brasil) e Sistel (Telebrás).
A Economática classificou como empresa estatal aquela em que governos detêm a maior parte das ações ordinárias (que dão direito a voto e permitem o controle da empresa), e não necessariamente donos de mais de 50% dessas ações.
Exel ressalva que nessas pesquisas há sempre o risco de contagem duplicada de valores, mas nada que invalide a conclusão de que a presença do Estado nas Bolsas brasileiras ainda é gigantesca.
O peso tende a diminuir com o programa de privatização. Só Telebrás enquanto acionista, por exemplo, participa com o equivalente a US$ 31,7 bilhões do valor de 264 empresas com ações em Bolsa. A União, controladora da Telebrás, com US$ 47,5 bilhões.
A lista dos 20 maiores acionistas de empresas cotadas em Bolsa (ver ao lado) também mostra forte presença dos grupos Itaú e Bradesco -via a holding Itausa e a Cidade de Deus Participações- no mercado acionário.
Outros destaques da participação privada são o Unibanco e a Contab Adm. de Bens, esta como acionista da Souza Cruz.

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