São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Crise na Ásia ameaça economias industrializadas

PIERRE-ANTOINE DELHOMMAIS
DO "LE MONDE"

O agravamento brutal da crise monetária e das Bolsas de Valores do sudeste asiático terá consequências para os países ocidentais? Será que ameaça a retomada econômica da Europa?
Até agora os líderes dos principais países industrializados estavam minimizando o impacto da tempestade financeira asiática sobre o crescimento mundial. No início de agosto a responsável econômica pela Casa Branca, Janet Yellen, estimou que a economia norte-americana não estava ameaçada. "Não acredito que esses acontecimentos externos sejam suficientemente significativos para nos tirar de nosso caminho", afirmou.
Riscos
O PNB (Produto Nacional Bruto) "per capita" de Hong Kong ultrapassa os US$ 22 mil, ou seja, equivale aos níveis dos Estados Unidos, Alemanha ou França. Essa mudança de dimensão também modifica a natureza e a importância dos riscos para os países ocidentais.
Para os EUA, as consequências diretas são de dois tipos. O primeiro diz respeito ao equilíbrio do sistema financeiro mundial. O "crash" da Bolsa de Hong Kong -o segundo mercado acionário da Ásia e sexto do mundo- ameaça contagiar outras praças importantes. Para compensar as perdas sofridas em seus investimentos na Tailândia, em Cingapura ou em Hong Kong, os administradores podem optar por obter seus lucros em Wall Street, Frankfurt ou Paris.
Em vista da amplitude das perdas (avaliadas em várias centenas de bilhões de francos), não se pode excluir a possibilidade de que alguns grandes bancos europeus ou americanos se encontrem atualmente em situação delicada.
Quebra de bancos
Em alguns setores chega-se a temer a quebra de bancos, como a que vitimou o banco britânico Barings em 1995, depois de operações no mercado japonês de valores. Há dúvidas também quanto à resistência à tempestade que poderá opor o HSBC, o maior banco do mundo. Mesmo que seja possível evitar uma crise do "sistema", o "crash" das praças asiáticas vai fragilizar o sistema financeiro e bancário mundial e é possível que leve os bancos a restringir o créditos a empresas.
A crise também terá consequências negativas diretas para os EUA e a Europa. Os planos de austeridade aplicados na Ásia para acompanhar a desvalorização das moedas e restringir as tensões inflacionárias vão se traduzir numa desaceleração econômica forte na região.
Japão
O Japão, que já anda mal das pernas, também será afetado, devido às relações econômicas estreitas que mantém com os países da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático).
Essa desaceleração geral afetará as atividades com os Estados Unidos e a Europa: as exportações serão prejudicadas, especialmente se determinados grandes programas de infra-estrutura forem cancelados, e a competitividade dos produtos asiáticos será reforçada.
Empregos
Segundo um estudo do Departamento norte-americano do Trabalho, o comércio entre os EUA e a Ásia em desenvolvimento atingiu a cifra de US$ 109 bilhões em 1996 e gerou 700 mil empregos nos Estados Unidos.
Quanto à França, mesmo que for menos afetada do que a Alemanha, muito ativa no sudeste asiático, ela não será poupada, já que 6,2% de suas exportações se destinam a essa região.
Na avaliação dos especialistas, a crise asiática é uma péssima notícia para a retomada econômica européia, até agora essencialmente puxada pelas exportações. Segundo alguns cálculos, pode custar à França até 0,2% de seu crescimento em 1998.

Tradução de Clara Alain

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