São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
Texto Anterior | Índice

A crise na Ásia

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

As fortes flutuações na Bolsa de Valores de Hong Kong e seus reflexos tanto nos países do Sudeste Asiático quanto nas Bolsas de outros países, inclusive o Brasil, causaram preocupações em investidores e na população que ouve pela televisão notícias bombásticas sobre a queda das ações.
Convém, no entanto, colocar o problema em uma dimensão menos emocional. Os ajustes nas Bolsas asiáticas e as correções nas taxas de câmbio locais são reflexos de reavaliações do mercado, nem todas plenamente racionais, de que os anos anteriores de forte crescimento produziram preços de ativos muito elevados, tanto no setor imobiliário quanto nas ações de empresas, e chegou o momento de produzir correções nisso.
A desvalorização dos preços de ativos e das moedas locais certamente levará a outros ajustes custosos para essas economias, sendo o mais evidente deles a diminuição da taxa de crescimento e a redefinição do modo pelo qual vinham crescendo. Sem dúvida, isso é oneroso e demandará tempo. Por sorte, os ajustes poderão ser feitos em um momento em que os países industrializados estão crescendo. Se o cenário mundial fosse de recessão, como no início dos anos 80, isso dificultaria o ajuste.
Outro fator que deverá ajudar é que, após as oscilações nos mercados acionários mundiais, as autoridades monetárias americanas devem adiar qualquer aumento em suas taxas de juros para não precipitar repercussões recessivas indesejadas.
No tocante aos ajustes nas Bolsas de Valores asiáticas, as flutuações ainda não terminaram, em função das perdas que ainda necessitarão ser absorvidas pelo sistema bancário. Continuarão, nesse caso, sendo um fator de instabilidade.
O que preocupa mais os leitores são os possíveis reflexos por aqui. Nesse caso é preciso lembrar que as Bolsas de Valores representam espaços restritos, embora importantes, da economia. Altas e baixas nesses mercados são frequentes e suas repercussões na economia são indiretas.
No caso do Brasil, há um processo de privatização importante em andamento e esse processo representa um fator de ativação do mercado acionário, inclusive com ingressos importantes de investimentos estrangeiros. Isso deverá amortecer impactos mais fortes que poderiam ocorrer na economia e nas Bolsas.
De todo modo, a crise nas economias do Sudeste Asiático já acendeu o sinal amarelo de que haverá que se corrigir o déficit nas contas externas e que isso acarretará desvalorizar o real. Como e quando ainda são incertos, mas a margem de manobra ficou mais estreita após as desvalorizações asiáticas.

Texto Anterior: Aposentadoria máxima vai até R$ 975,93
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.