São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Villeneuve busca título para calar críticos

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DO ENVIADO A JEREZ

Trair o pai. Negar sua figura. Ir contra a própria origem.
As velhas máximas edipianas poderiam ser aplicadas a Jacques Villeneuve, canadense, 26, que busca hoje, na Espanha, o seu primeiro título mundial de F-1.
Não ser tratado como um piloto, como seu pai foi na mais pura forma, é tudo que ele deseja.
"Corro para me divertir", não se cansa de repetir.
É difícil não ligar Jacques a seu pai, Gilles, um dos mais míticos ferraristas, dono de uma legião de seguidores em todo o mundo.
É difícil não tratar Villeneuve como um piloto. Afinal, ele trabalha para a melhor escuderia, a mais profissional do automobilismo.
E, mesmo parecendo ser uma tarefa impossível, ele faz questão de deixar essa opção clara a cada oportunidade que surge.
Foi assim que perdeu um milionário contrato de publicidade, pelo simples capricho de pintar os cabelos -a repentina mudança de imagem inviabilizou toda uma campanha já elaborada.
Villeneuve não é membro da GPDA, a associação de pilotos que foi ressuscitada após a morte de Ayrton Senna, em 1994.
E, para piorar, assumiu solitário o papel de contestador, historicamente reservado à entidade, que, nos 80, promoveu até uma greve de pilotos, algo impensável nos tempos atuais.
Pouco antes, em maio, chamou o novo regulamento da F-1, que prevê pretensamente corridas mais seguras em 98, de ridículo. Acabou advertido publicamente pela FIA, órgão máximo do automobilismo.
Todas essas explosões de temperamento causaram mal-estar, claro. E também a idéia de que Villeneuve faz força para ser diferente apenas para aparecer. Uma forma diferenciada de marketing pessoal.
O filho de Gilles, no entanto, é rápido e competitivo como qualquer outro piloto.
Aliás, parece mentalmente mais bem preparado para ser campeão do que seu pai, que nunca conquistou um título.
Jacques pode renegar o meio em que vive, mas não estaria satisfeito com outra atividade.
Deseja muito o campeonato que pode ganhar hoje e planeja até criar uma equipe própria na F-1, com apoio da fabricante de chassis Reynard, que o acompanhou na Indy, onde foi campeão em 95.
Algo que coroaria uma carreira iniciada aos 17 anos da forma mais previsível possível: em uma escola de pilotagem, no Canadá.
Abandonou o colégio interno na Suíça, onde fora colocado logo depois da morte de Gilles, seis anos antes. Vagou pela Europa, em carros de turismo e na F-3 italiana.
Só brilhou alguns anos mais tarde, quando foi vice na F-3.000 japonesa. Transferiu-se para os EUA, fez sucesso na F-Atlantic e acabou chegando à Indy.
O título na série norte-americana e o sobrenome famoso lhe valeram um teste na Williams, que o contratou no final de 95.
Quase venceu na corrida de estréia, na Austrália. Mas a primeira vitória só surgiria em Nurburgring, na Alemanha, coincidentemente após um duelo com Michael Schumacher, o rival de hoje.
Ao contrário do alemão, no entanto, Villeneuve, muito pelo o que faz e diz, não é nem de longe uma unanimidade.
Levantar a taça na Espanha calaria os críticos. E talvez o convencesse de que ser um piloto, como seu pai, não é necessariamente uma idéia tão ruim.
(JHM)

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