São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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'Morte é maior medo'

CACO BARCELLOS

"Eu jamais entro numa situação imaginando que vai rolar o pior. Sou sempre surpreendido. Eu entro achando que estou cercado de relativos cuidados. Se eu imaginar que a minha vida vai ser colocada em risco, desisto da história -até porque, depois, eu não vou poder contar história alguma.
Uma pesquisa bem intencionada mostrou que o principal medo da população é o de morrer. Morrer vítima de tiro, arma de fogo. Por que esse medo? Por que chegamos a isso? Eu acho que a imprensa contribui para isso pela maneira que ela retrata a realidade da violência urbana. Da mesma forma que a polícia, ela coloca que o perigo reside no criminoso de baixa renda, no assaltante de rua.
O assaltante profissional, que já passou por cadeia, sabe mais do que ninguém, mais do que qualquer advogado, que um crime de morte em assalto significa uma pena de um crime hediondo. Significa 30 anos em regime fechado. Então ele só mata em última hipótese.
Arma é coisa para bandido e coisa para a polícia. Na mão de outras pessoas é um instrumento que dá poder aos covardes. Muita gente mata com a intenção de proteger a sua vida e o seu patrimônio, mas há muita gente que transforma este patrimônio em poder.
Eu me pergunto às vezes por que a sociedade tem tanto medo do criminoso de baixa renda, que geralmente rouba pouco de poucos e não tem medo, por exemplo, de quem rouba muito de muitos. Ninguém se arma contra os banqueiros quando são golpistas."

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