São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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'É a pulsão da vida'

LISANDRE CASTELLO BRANCO

"É preciso lembrar que nós vivemos em uma cultura que condena o medo e que acha que o medo é alguma coisa que tem que ser erradicada e abolida.
Uma pessoa para estar bem não deve sentir medo. Eu, pelo contrário, vejo o medo como uma expressão da pulsão da vida. As pessoas que nunca têm medo acabam morrendo mais cedo.
Quando estudamos as sociedades primitivas, vemos que lá o medo é reconhecido e aceito. Existem os rituais que reconhecem o medo da ira divina e para isso praticam uma série de coisas para aplacar esta ira.
Em nossa cultura, embora se fale em mal-estar da civilização, o que se pretende é criar pessoas que não sejam covardes, pois ter medo passou a ser sinônimo de ser covarde.
Penso que o medo é também um fenômeno cultural. Sabemos hoje que o ser humano tem a possibilidade de sentir e expressar o medo, e isto é inevitável.
A vida viabiliza o sentimento do medo de acordo com as circunstâncias sociais e culturais, os valores e as crenças vigentes.
Acho que o medo é fortemente carregado de humanidade. Confundir humanidade e racionalidade é perder de vista o que as pessoas têm de mais interessante.
Não há como discutir em termos de racionalidade com um sujeito que está vivendo uma situação de medo.
As pessoas podem ter medo, podem assumir o seu medo, sem deixarem de ser adultas, responsáveis e bem-sucedidas."

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