São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997 |
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Argentina faz hoje 'primária' para 99
CLÓVIS ROSSI
E, se as urnas confirmarem os resultados das pesquisas, a oposição salta na frente, pois deve ganhar no cômputo nacional. Mas a vitória se tornará de maior impacto político se se confirmar informação de ontem do matutino conservador "La Nación", segundo a qual a coligação oposicionista passou à frente também na Província de Buenos Aires, a mais importante do país e de maior eleitorado (concentra quase 38% do total nacional). Números trocados O "La Nación" cita números de última hora do pesquisador oficial do governo, Júlio Aurélio, pelos quais a Aliança levaria cinco pontos percentuais de vantagem na Província. Na última pesquisa divulgada oficialmente, Aurélio dava resultado inverso: cinco pontos para a lista encabeçada por Hilda "Chiche" Duhalde, mulher do governador Eduardo Duhalde, principal presidenciável do Partido Justicialista (o nome oficial do peronismo). Se houver de fato a inversão prevista por Aurélio, se tornará completa a vitória da Aliança para o Trabalho, a Educação e a Justiça -ou simplesmente Aliança-, criada faz dois meses e meio. A coalizão é formada pela UCR (União Cívica Radial, o mais antigo partido argentino) e pela Frepaso (Frente País Solidário, um conglomerado basicamente de peronistas dissidentes). Falso plebiscito Com a economia surfando em um "boom", Menem tentou transformar a eleição em julgamento do seu modelo, que jogou a inflação a zero e está produzindo um crescimento de 8% em 97. "O modelo vai ser plebiscito e vai triunfar", acha o presidente. Nenhum analista sério acreditou. María Braun, da consultoria Mori, chega a dizer que o modelo econômico "é um bem social e não é propriedade de partido algum". No máximo, vai-se votar por "uma mudança de rumo, mas não de modelo", diz outra socióloga, Graciela R”mer. Nem assessores do presidente acreditam no plebiscito: "Não creio que o modelo esteja em jogo nas eleições", diz o vice-ministro de Economia, Carlos Rodríguez. Além de retoques no modelo, há virtual consenso de que se vai votar, também, contra a corrupção, de que o governo é constantemente acusado. Se as urnas confirmarem as pesquisas, fica fácil apontar os dois líderes da Aliança na cidade de Buenos Aires, a capital federal, como os que mais se beneficiam, antes mesmo da votação. O próprio Menem já admitiu de público que a Aliança ganha em Buenos Aires (a capital, não a Província do mesmo nome, que a circunda, mas forma outro distrito eleitoral). Pela Frepaso, fortalece-se a já natural candidatura do deputado Carlos "Chacho" Alvarez, que foi o fundador do grupo. Cabeça da lista aliancista na capital, ele terá cômodo triunfo, dizem as pesquisas. Pela UCR, o beneficiário é o prefeito Fernando de la Rúa. Mas a Aliança poderá ter um terceiro nome no "grid" de largada para 99, o da senadora Graziela Fernández Meijide, primeira na lista da oposição na Província de Buenos Aires. Opção peronista No peronismo, o governador dessa Província, Eduardo Duhalde, se acha o candidato natural. Foi o vice de Menem em 89 e exerce o segundo mandato na mais importante Província argentina. Mas, para consolidar-se, precisa da vitória de sua mulher, Hilda, que lidera a chapa peronista. Se os Duhalde perderem, abre-se uma espécie de buraco negro no peronismo, embora haja dois outros pré-candidatos à Presidência do país. Um deles, o ex-governador de Tucumán, Ramón "Palito" Ortega, só foi nome nacional como cantor de músicas românticas, não como político. Outro ex-governador, o ex-piloto de Fórmula 1 Carlos Reutemann, brigou com seu sucessor em Santa Fé, Jorge Obeid, o que pode levar a uma derrota fatal do peronismo na Província. LEIA MAIS sobre a eleição na Argentina à pág. seguinte Próximo Texto: Derrotado, Menem deve defender 'estabilidade' Índice |
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