São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Situação econômica e intenção de voto divergem

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Quem olha, ao mesmo tempo, os números macroeconômicos argentinos e as pesquisas eleitorais leva um choque: ao contrário do que seria lógico esperar, não há coincidência entre eles.
As pesquisas indicam que o governo, na melhor das hipóteses, empatará com a oposição.
Na economia, ao contrário, o governo ganha de goleada: o crescimento, no primeiro semestre, foi de asiáticos 8%. A produção industrial em setembro foi a mais alta da história das estatísticas. Estão em construção 8 milhões de metros quadrados de habitações.
Só não é o melhor dos mundos porque o desemprego continua desafiando abertamente a promessa de Menem de "aniquilá-lo", feita ao iniciar seu segundo mandato, há dois anos.
A mais recente estatística, de maio, mostra que 16% da força de trabalho está desempregada, 2,5 vezes mais do que quando Menem assumiu pela primeira vez.
O governo alega que o nível pré-Menem era irreal: encobria o desemprego disfarçado e "o emprego absolutamente improdutivo, tanto no setor público como no privado", como diz Rodolfo Frigeri, presidente do Banco da Província de Buenos Aires.
Não deixa de ser verdade, mas ignora o fato de que, ainda agora, conforme investigação do Ministério do Trabalho, 22,19% dos trabalhadores pesquisados não estão registrados por suas empresas.
Não são empresas de fundo de quintal, mas devidamente formalizadas.
Seja como for, o desemprego é, de longe, o fator que explica as dificuldades eleitorais do governo.
Maior problema econômico
Uma pesquisa feita simultaneamente em oito países latino-americanos mostrou que é na Argentina que se encontra a mais elevada proporção (45%) dos que apontam o desemprego como o problema econômico mais importante.
Mais do que triplica os 12% apurados no Brasil.
Mesmo no território macroeconômico há um dilema, aliás similar ao do Brasil: a impossibilidade de crescer muito sem que cresça, igualmente, o déficit comercial.
Com o "efeito tequila" (as sequelas da crise mexicana de 94), a Argentina sofreu brutal recessão em 95 (a economia retrocedeu 4,6%). A retração interna (mais o "boom" no Brasil, graças ao Plano Real) permitiu recuperar saldo no comércio.
Mas foi só a economia voltar a crescer para que o déficit reaparecesse (as importações superaram as exportações em US$ 2,24 bilhões nos oito primeiros meses deste ano).
Como ensinou a crise mexicana e, agora, a asiática, países com contas externas no vermelho vivem sob permanente risco de sofrerem uma crise.
Ficam sujeitos a fatos sobre os quais não exercem controle algum, como a cotação do real e o nível de atividade no Brasil (que compra 30% de tudo o que a Argentina exporta) ou as taxas de juros norte-americanas.
(CR)

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