São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Não somos normais

CLÓVIS ROSSI

Buenos Aires - Não devem ser tempos fáceis os de hoje para a geração que amava os Beattles, os Rolling Stones e a revolução.
Sobraram só os Stones, meio "caidaços". Revolução, nem pensar. Até reforma, uma palavra que era o antípoda de revolução, está saindo de moda.
A eleição de hoje na Argentina parece ser um paradigma dos novos tempos e, em certa medida, uma espécie de trailer do que será o pleito presidencial de 98 no Brasil.
A história argentina está impregnada de revoluções e contra-revoluções (mais destas do que daquelas, a bem da verdade). Agora, no entanto, um economista como Carlos Pérez, da Fundação Capital, se anima a dizer que "existe na Argentina um determinismo econômico".
Ou seja, não está em jogo nem uma revolução nem mesmo uma reforma, mas apenas, dependendo do resultado, retoques no modelo vigente, que é muito parecido com o brasileiro e com o do resto da América Latina.
Parece intocável a santíssima trindade do modelo : estabilidade, privatizações e abertura da economia.
No Brasil, suspeito que será assim também. Inflação baixa é bom e todos gostam, o que significa que candidato algum ousará atacar a estabilidade. Privatizações, já terão todas sido feitas até 98 e duvido que haja alguém disposto a pregar "reestatizações".
A abertura da economia é o menos sagrado dos dogmas, pelo menos quanto ao grau ideal.
Júlio Macchi, presidente da Bolsa de Comércio de Buenos Aires, chega a dizer que a normalidade com que a Argentina encara as eleições (as de hoje e as presidenciais de 99) parece coisa de país desenvolvido.
Há muito mais gente dizendo que os países ao Sul do Equador estão virando "países normais". Seria genial, se não tivessem problemas sociais "anormais", que nem retoques nem reformas consertam. Só mesmo uma revolução, sem dar à palavra o caráter ideológico ou incendiário que tinha.

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