São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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Aliança bate Menem com folga inesperada

LÉO GERCHMANN

CLÓVIS ROSSI; LÉO GERCHMANN
DE BUENOS AIRES

Com 30,5% dos votos apurados, a oposição obtinha 47,7% dos votos, contra 33,7% para o partido governista

O presidente argentino, Carlos Menem, sofreu, nas eleições legislativas de ontem, derrota ainda mais contundente do que o previsto, no seu primeiro tropeço eleitoral desde que se elegeu, em 1989.
No cômputo nacional, a oposição ficou perto da maioria absoluta dos votos (exatamente 47,7%), 14 pontos à frente do PJ (Partido Justicialista, nome oficial do peronismo).
Estavam apurados 30,5% do total de votos, até 21h30 de ontem (22h30 em Brasília).
Essa conta soma os votos dados à Aliança, a coalizão oposicionista, nos 14 distritos eleitorais em que se constituiu, e também os votos a cada um dos dois partidos que a compõem, nos dez restantes.
A Aliança é formada pela UCR (União Cívica Radical, o mais antigo partido argentino) e pela Frepaso (Frente País Solidário, comandada por peronistas dissidentes).
Mas o que dá contornos mais sérios à derrota peronista é o fato de ter perdido também na Província de Buenos Aires, a mais importante e de maior eleitorado (quase 38% do total nacional de eleitores).
Na Província, até agora um inexpugnável bastião peronista, a Aliança ganhou com folga nem de longe prevista nas pesquisas: 50% contra 39% para o PJ, nos primeiros cômputos oficiais.
O peronismo perdeu igualmente em Santa Fé, outro de seus feudos eleitorais tradicionais. Na Capital, Buenos Aires, a vitória oposicionista foi por cerca de 40 pontos percentuais de diferença.
O tamanho do desastre eleitoral para o governo se completa com dois dados:
1 - É a primeira vez em sua história de meio século que o peronismo, estando no poder, perde uma eleição.
2 - O PJ perdia em todos os sete maiores colégios eleitorais.
Tudo somado, o resultado foi "uma tremenda mensagem para o presidente", na avaliação do sociólogo Enrique Zuleta Puceiro, do Ibope argentino.
Mensagem assim traduzida pelo deputado reeleito Carlos "Chacho" Alvarez, principal líder da Frepaso: "Já não há partido invencível na Argentina. Acabou-se o tempo da onipotência".
Os resultados provocaram evidente estado de choque no peronismo, em que surgiram de imediato pedidos para uma avaliação mais profunda do que ocorreu.
Octávio Frigério, eleito vereador pelo PJ na capital, pediu "uma reflexão autocrítica".
Felipe Solá, secretário de Agricultura, acha que os números pedem uma "análise de coisas mais profundas e transcendentais".
Antes mesmo dos primeiros resultados, o presidente Menem tratou de minimizar a importância do pleito de ontem, destinado a renovar 127 das 257 cadeiras da Câmara de Deputados.
Depois de passar a semana dizendo que a eleição seria "um plebiscito" sobre o modelo econômico que implantou no país, Menem mudou o discurso: ao votar em sua Província (La Rioja), disse que se tratava de "eleger nada mais do que deputados".
Completou: "Muita gente pensa que (esta eleição) é um passo prévio para 1999. Não creio que seja assim".
Prometeu que os dois anos que lhe restam de mandato "serão dois anos brilhantíssimos".
Seu ministro do Interior, Carlos Corach, tratou também de reescrever o que Menem havia dito: afirmou, ao reconhecer a derrota, que o plebiscito sobre o modelo havia sido na eleição presidencial de 1995, em que Menem se reelegeu, e não agora, em pleito apenas para o Legislativo.
À noite, em mensagem pela cadeia nacional de rádio e TV, Menem mudou definitivamente o discurso, a ponto de dizer-se vitorioso. Disse que a vitória "mais importante" de sua gestão é o "reconhecimento da oposição ao modelo" que ele implantou nos seus oito anos de gestão.
Nem fez menção alguma aos números, a não ser por meio do chavão "a voz do povo é a voz de Deus".

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