São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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SEM RAZÃO PARA A FOME

A miséria mundial não resulta da falta de recursos, mas dos interesses que determinam as escolhas de prioridades. E o combate à fome continua preterido. É o que se pode concluir dos dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O custo anual para erradicar a pobreza absoluta e universalizar o acesso a saúde, educação, água potável e planejamento familiar corresponde a menos de 0,5% da renda mundial, US$ 80 bilhões por ano, segundo informa o PNUD.
Já o comércio internacional de armas consome cerca de metade desse valor, tendo movimentado oficialmente US$ 39,9 bilhões em 1996.
Seria ingenuidade supor que as questões geopolíticas e os interesses de Estados serão deixados de lado para suprimir a miséria. Mesmo com o fim da Guerra Fria, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, soma, desde 94, 70 conflitos armados pelo mundo.
Ainda que em alguns países, especialmente da África e do Oriente Médio, os confrontos e as guerras civis contribuam significativamente para a situação de miséria, a desatenção para com a pobreza e a desigualdade parece ser geral.
Segundo o PNUD, a parcela 20% mais pobre da população mundial recebe pífio 1,1% do produto global. E a ajuda oficial das nações ricas aos países pobres tem diminuído em termos relativos. Segundo a associação norte-americana "Interaction", os membros da OCDE destinaram apenas o equivalente 0,25% de seus PIBs a esse tipo de atuação no ano passado. É a menor cifra desde 1950.
No Brasil, segundo dados do IBGE de 1995, os 10% mais pobres recebem míseros 1,1% da renda, enquanto os 10% mais ricos ficam com 48,2% da riqueza criada anualmente. Estudo do Ipea conclui que o custo direto para tirar da indigência 16,6 milhões de brasileiros seria de apenas 0,4% do PIB. Mas não há um programa nesse sentido.
A verdade é que o combate à fome não tem sido prioritário internacionalmente, nem, na maioria dos casos, dentro de cada país. Nesse cenário deplorável, o Brasil, apesar do Real, figura com vexatório destaque.

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