São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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AFOGADA EM CARTAZES

Já acostumados à desmedida poluição visual de São Paulo, não são poucos os que consideram como um problema menor a horrorosa colagem de faixas, cartazes e placas (com sofisticados recursos eletrônicos ou simplesmente feitas em fundo de quintal) que assolam a cidade.
Liberalizada por uma legislação permissiva, que mais corresponde a um emaranhado de regras a beneficiar quem pretende burlá-las, a prática de apropriação privada de espaços públicos assumiu proporções inaceitáveis, especialmente para uma cidade que pode ser tudo, menos bela.
Além do estresse visual, as excessivas placas chegam a esconder a sinalização de trânsito e, em muitos casos, distraem a atenção de motoristas. Ainda que proprietários de imóveis sejam remunerados pelo aluguel de seus espaços, e às vezes o façam cobrindo toda a sua fachada com anúncios (como ocorre na avenida Rebouças), o poder público tem o dever de conter a degradação urbana.
Em certas situações, o descaso com o espaço público assume ares predatórios. Monumentos que simbolizam a cidade, como o de Victor Brecheret e o Obelisco, no Ibirapuera, deveriam ser preservados da promiscuidade com grandes anúncios, como acontece em lugares civilizados.
Um grupo de profissionais liberais paulistanos, que pretende encaminhar propostas para ao menos minimizar a poluição visual, avalia em cerca de 80% o número de placas irregulares ou clandestinas na cidade.
Parece claro que a poluição visual conta com a anuência das autoridades. Quer pela dificuldade de fiscalizar, quer pelo desinteresse em vigiar, à prefeitura pode parecer mais vantajoso leiloar áreas comuns a todos.
O que importa a população é sobretudo uma legislação mais rigorosa. Mas esta de nada adiantará, sem a conscientização de que cabe também à opinião pública rejeitar governantes e anunciantes que fazem da cidade, até nisso, uma terra de ninguém.

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