São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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Acabou o desemprego?

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O Brasil ganhou 318.422 vagas de emprego formal (com carteira assinada) de janeiro a agosto deste ano. A notícia está sendo festejada pelo governo. Há motivo para isso. O desemprego é um dos fantasmas que rondam o projeto de reeleição de FHC.
Apesar da euforia, quem for prudente no governo aguardará um pouco mais para soltar rojões.
A excelente notícia dos 318 mil empregos novos deve ser colocada em perspectiva no tempo.
Em relação ao mesmo período do ano passado, janeiro a agosto, o aumento foi brutal: as 318 mil vagas novas deste ano representam 243% a mais do que as 92.721 de 96.
Só que esse percentual fica opaco quando comparado ao saldo do emprego formal nos últimos 12 meses. De setembro de 96 a agosto deste ano, houve a eliminação de 45.597 vagas.
Isso aconteceu porque os últimos meses do ano costumam ser trágicos para quem é assalariado de pouca qualificação.
Primeiro, as indústrias mandam embora os trabalhadores temporários usados só na engorda de estoques para o período natalino. Passado o Natal, o comércio catapulta para o desemprego milhares de vendedores, pois os clientes já não entram nas lojas.
As empresas brasileiras cortaram 389.563 vagas formais de trabalho em outubro, novembro e dezembro de 96. Um rombo da mesma proporção nos próximos meses de 97 será suficiente para anular tudo o que houve de bom até agosto.
Nada indica, pelo menos até agora, que o final deste ano será tão ruim economicamente como foi o de 96. Mas também não há quem preveja um boom econômico fenomenal.
Por tudo isso é um equívoco pensar que a crise do emprego caminha para uma solução. Muito pelo contrário.
Desde que tomou posse, em janeiro de 95, FHC presidiu um país que viu sumir do mercado 365 mil postos de trabalho. Terá de fazer muito ainda para que esse tema seja usado a seu favor -e não contra- durante a campanha reeleitoral do ano que vem.

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