São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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Pescador é estranho no ninho

DA ENVIADA ESPECIAL

A área hoje protegida pelo Sesc Pantanal sempre foi visitada por pescadores de Cuiabá e de outras áreas do país. Eles nem sempre tomam cuidados para preservá-la.
Como Almir Gonçalves, 30, morador da capital mato-grossense. "Eu sei que estamos errados, mas sempre relaxamos e largamos o lixo por aí", conta ele entre a barraca em que passou a noite e as piranhas pescadas um pouco antes.
Já Édson Pessoa, 25, diz que leva para casa todo o lixo produzido no acampamento. "Quem gosta de pescar faz isso porque quer encontrar peixes no ano seguinte."
Antes da chegada dos turistas e do acúmulo de lixo, algumas das praias em que os pescadores acampam já foram utilizadas por andorinhas para desova.
"Hoje, as andorinhas estão fugindo para outros lugares", conta o pantaneiro e funcionário do Sesc José da Silva Rosa, 38.
Para evitar que os jacarés continuem usufruindo da companhia de garrafas de Coca-Cola, o Sesc planeja instalar postos de fiscalização e contratar guardas.
Alguns pontos estratégicos terão sensores para flagrar visitantes que danifiquem a natureza.
"Esses visitantes serão convidados a se retirar. Em caso de discórdia, poderemos apreender seu material e, em último caso, pedir a colaboração da Polícia Federal", diz Maron Emile Abi-Abib, coordenador do projeto do Sesc Pantanal.
Pantaneiros
Para Rosa, o Pantanal não tem sido destruído só pelo público urbano. "Os pantaneiros mais velhos achavam que a região nunca acabaria e por isso não tinham bom senso. Colocavam fogo na mata e derrubavam árvores com viveiros para comer os filhotes."
Ele conta que muitas garças foram mortas por causa de suas plumas e que o cervo praticamente foi extinto na região por causa da caça. "Hoje, 60% dos pantaneiros têm mais consciência."
Rosa tenta salvar até animais frágeis de seus predadores. Numa visita ao ninhal dos cabeças-secas, ele tirou um filhote dessa ave que era triturado por uma sucuri, reptil que não lhe causa medo.
"Os únicos animais perigosos no Pantanal são o jacaré e a piranha", diz, mostrando um ferimento no pé causado pelo peixe.
"Não entendo por que as pessoas têm tanto medo de onça. Acho que é mania. Eu não tenho medo, mas acho que peguei a mania das outras pessoas."

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