São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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Para MST e UDR, plano de FHC é eleitoreiro

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Ruralistas e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) chamaram ontem de eleitoreiro o programa de reforma agrária desenvolvido pelo ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) para a campanha de reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
"É uma medida que tem caráter populista e eleitoral", disse Gilmar Mauro, membro da direção nacional do movimento.
"O presidente teve quatro anos para resolver os problemas que eram compromissos de sua campanha e não fez. É estranho isso acontecer nesse período pré-eleitoral", completou.
A proposta, preparada pelo Ministério da Política Fundiária, prevê gastos de R$ 16,2 bilhões para o assentamento de 1 milhão de famílias até 2002, último ano de um eventual segundo mandato de FHC.
"Em quatro anos, essa seria um número razoável. O estranho é o governo, que dizia que a meta de assentar 280 mil famílias até 98 correspondia à realidade, mudar de idéia. Diziam que nossos números eram maiores do que a realidade", declarou Mauro.
"Irresponsável"
Na avaliação do presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Roosevelt Roque dos Santos, o plano, batizado de "Programa de Reforma Agrária e Desenvolvimento Sustentável", é também "irresponsável". "Vamos inchar o campo com uma massa de pobreza, de trabalhadores sem tecnologia para produzir. Isso é demagogia, coisa de campanha."
Santos também criticou o valor a ser investido no projeto. "Eles não dão condições nem para os trabalhadores que já estão assentados. De onde vai sair isso tudo?"
Mesmo os ruralistas defensores da proposta demonstraram preocupação com o período em que ela está sendo desenvolvida.
"O programa é ambicioso. Solucionaria o problema. Espero que não seja só marketing. Se for, isso me desapontaria e me preocuparia porque a única forma de acabar com a desordem é resolver a questão", disse Luiz Hafers, presidente da Sociedade Rural Brasileira.
Hafers defendeu ainda o investimento previsto para o programa. "Se forem necessários R$ 20 bilhões, que assim seja. É um bom negócio acabar com a pobreza."
O presidente da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Francisco Urbano, afirmou que o plano é "bastante razoável". "Mas espero que seja por convencimento da necessidade da reforma agrária e não um projeto de campanha."
Esvaziamento
A meta de 1 milhão de famílias assentadas tem sido o valor apresentado pelo MST como indispensável para que sua reivindicação de reforma agrária seja atendida.
Mas, segundo Mauro, o movimento não se preocupa com a possibilidade de que o cumprimento do novo programa esvazie o MST.
"O movimento não nasceu para se fortalecer. Nosso objetivo é fazer a reforma agrária. Se cumprirem o que prometem, acabam com a gente. Torcemos por isso."
Dados do MST indicam que existem hoje 4,8 milhões de famílias sem terra no país. "Por isso, ainda que cumpram o que prometem, teríamos mais 3,8 milhões de famílias pelas quais lutar", declarou.
O líder sem terra disse, entretanto, que não acredita na proposta. "Seria idiotice nossa acreditar. Meta só não adianta. O que resolve é ação. E isso o governo Fernando Henrique não tem feito."

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