São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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Perícia contesta valor de terrenos

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Avaliação feita por peritos em terreno comprado pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) na cidade de Garça (423 km a noroeste de São Paulo) aumenta a suspeita de superfaturamento do imóvel.
O terreno foi comprado por R$ 200 mil pela Longitudinal Construções no dia 15 de março de 96. Onze dias depois, a construtora revendeu o imóvel à CDHU por R$ 761,7 mil. Foram construídas 500 casas populares no local.
Quando o caso foi revelado, no início deste mês, o presidente da CDHU, Goro Hama, afirmou que a diferença de preço era um indício de sonegação fiscal. Segundo Hama, o valor real do terreno era superior ao declarado na escritura.
Por causa dessa argumentação, a Câmara Municipal de Garça solicitou avaliação em terrenos da mesma região em que a CDHU comprara o imóvel. A avaliação foi feita por três peritos especializados nesse tipo de levantamento.
A conclusão dos peritos é que o terreno vale hoje R$ 219,2 mil. Mesmo com uma valorização de R$ 19,2 mil (foi comprado em 96 por R$ 200 mil), o imóvel ainda está com um sobrepreço de R$ 542,5 mil em relação ao valor pago pela CDHU (R$ 761,7 mil em 96).
A avaliação do imóvel de Garça foi anexada ao inquérito aberto pelo Ministério Público para apurar suspeitas de superfaturamento em outros imóveis comprados pela CDHU. Há pelo menos seis desses casos sob investigação.
Hama é amigo e homem de confiança do governador Mário Covas. Secretário-geral do PSDB paulista, foi um dos coordenadores da campanha eleitoral covista.
A base governista na Assembléia Legislativa paulista tenta barrar a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar essas acusações.
O programa de casas populares dirigido por Hama é o projeto político mais ambicioso de Covas.
O orçamento da CDHU para este ano é de R$ 540 milhões. Nos três anos do atual governo, foram entregues 54 mil casas -até o final de 98, serão entregues mais 66 mil.
A CDHU também é acusada de beneficiar a Via Engenharia na compra de pré-moldados para a construção de casas populares. A empresa já faturou R$ 47 milhões nesses contratos -feitos com associações de sem-teto, mas com dinheiro da CDHU.
Na última campanha eleitoral, a Via Engenharia doou R$ 250 mil para a campanha do atual governador. Foi uma das maiores doações para a campanha covista.
Entre as investigações feitas pelo Ministério Público, há a suspeita de troca de favores entre Hama e a construtora Noroeste. Em troca de um aditamento de R$ 400 mil, segundo inquérito do Ministério Público, a construtora teria reformado o galpão de uma empresa e uma casa de propriedade de Hama.
A CDHU é acusada ainda de adquirir terreno em Fartura (340 km a oeste de São Paulo) por R$ 308 mil -o imóvel foi comprado antes por R$ 15 mil. Em Campinas (99 km a noroeste de São Paulo), terreno foi comprado por R$ 2 milhões -nove dias antes, havia sido adquirido por R$ 1,6 milhão.

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