São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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Mercado cai na angústia irracional

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Depois da "exuberância irracional", a angústia. Analistas e operadores financeiros temem pelo pior. "O mau humor generalizou-se, atingindo todos os mercados", comentou um executivo.
A questão agora não é apenas se haverá contágio entre países, mas se a desvalorização de patrimônios atingirá outros mercados, como imóveis, "commodities" ou estatais à venda.
Na CNN, organizou-se um auditório para perguntas. Um senhor de mais idade condenou o "hype" (excitação) em torno da crise. Disse que menos de um ano depois do "crash" de 1987, o mercado estava disparando de novo. Quem vendeu seus papéis, na época, apenas ajudou os grandes investidores a comprarem barato e colocarem mais dinheiro no bolso.
É interessante entender como a desvalorização numa Bolsa pode estar ligada e até conduzir a uma desvalorização cambial. A avaliação das estatais à venda passa pela sua cotação em Bolsa. Com o câmbio valorizado e as Bolsas em alta, as estatais iam ficando caras demais. A queda no preço das ações é um primeiro movimento de correção. O patrimônio fica mais barato, desvalorizado ou "corrigido".
Se mesmo assim os fluxos internacionais de investimento perderem força, fica mais difícil e, no limite, impossível financiar as importações e outras despesas externas (juros, remessa de lucros e dividendos etc.). Num segundo movimento, haveria então uma desvalorização cambial.
Como os mercados financeiros trabalham sempre tentando antecipar os acontecimentos, a corrida contra a moeda pode começar antes do que se imagina.
Para evitar que esse circuito seja ativado, o governo tenta defender sua moeda elevando as taxas de juros. É o que Hong Kong está fazendo. Juros mais altos teoricamente atraem fundos, se forem suficientemente altos para compensarem as expectativas de desvalorização.
Mas quão elevados devem ser os juros quando as desvalorizações já ocorridas (na Ásia ou mesmo no México, em 1994) ultrapassam os 50%? Superando um certo limiar, nem a elevação dos juros consegue conter a corrida contra a moeda. Foi o que ocorreu na Tailândia.
Num cenário otimista, o governo que eleva as taxas de juros coloca um freio na economia, reduz as importações, as remessas de lucros e dividendos e atrai capitais dispostos a correr algum risco.
Mas nos Estados Unidos a situação é outra. Praticamente todos os indicadores apontam para uma economia saudável, que está crescendo sem pressões inflacionárias. O medo nos mercados do resto do mundo leva os investidores a aplicarem seus fundos nos títulos do governo norte-americano. Isso leva a uma queda nos juros. Essa queda pode, passado o susto, novamente estimular as Bolsas.
A questão hoje é saber se a fronteira entre os chamados mercados emergentes e o topo da pirâmide, Wall Street, será destruída. Ao menos em tese, são cestas diferentes, assimétricas e assincrônicas, cujos ovos jamais serão destruídos simultaneamente.

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