São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
O BOLSO E A VIDA A inflação na Argentina foi zero em setembro e tende a zero também em outubro. A economia cresceu asiáticos 8% no primeiro semestre e deve fechar o ano com algo próximo desse índice. A produção industrial, em setembro, bateu o recorde de crescimento, contra o mês anterior, na história das estatísticas (9,1%). Foi nesse cenário macroeconômico que se realizaram eleições legislativas no domingo. A sabedoria convencional fazia supor que o governo ganharia até com folga. Perdeu por diferença maior do que todas as pesquisas prévias indicavam. Por quê? A sabedoria convencional, de novo, sugere que o desemprego elevado (16% da força de trabalho) é a resposta. Errado. Em 1995, o desemprego era ainda mais elevado (18%) e a economia estava em recessão (caiu 4,6% naquele ano), como consequência do chamado "efeito tequila", as sequelas da crise mexicana do ano anterior. Não obstante, o presidente Carlos Menem reelegeu-se, em 1995, já no primeiro turno, com 20 pontos percentuais de vantagem. Reelegeu-se, basicamente, porque a memória da hiperinflação não se havia apagado e o eleitorado preferiu votar pela estabilidade, que Menem encarnava, apesar do desemprego. A derrota de agora deve-se ao fato, primeiro, de que a oposição uniu-se formando a coligação batizada de Aliança para o Trabalho, a Educação e a Justiça. E, segundo, ao fato de que essa oposição assumiu a estabilidade econômica como um bem social, que não pode nem deve ser discutido. Se a estabilidade é um valor acima dos partidos, o eleitor pôde votar por outros valores que o governo Menem nunca conseguiu encarnar: a moralidade pública, uma eficaz administração da Justiça (o que inclui eliminar a impunidade), uma maior solidariedade com os excluídos pelo modelo. É uma lição para os políticos brasileiros: conquistada a estabilidade, o bolso, considerada a parte mais sensível do corpo humano, já não é o único fator a determinar o voto. Texto Anterior: PÂNICO NAS BOLSAS Próximo Texto: CIDADE POUCO HABITÁVEL Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |