São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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CIDADE POUCO HABITÁVEL

A sensação de que o trânsito em São Paulo está cada vez mais inviável não é recente; cada um dos cidadãos que trafega pela cidade vive diariamente esse transtorno na própria pele. Menos óbvia do que as reações individuais, porém, talvez seja a formação, ainda embrionária, de uma consciência coletiva capaz de perceber que o problema assumiu proporções intoleráveis e necessita de um tratamento menos paliativo e imediatista e mais estrutural.
A experiência recente dos três meses de rodízio, para além de seus efeitos contra a poluição, despertou a população para a deterioração da qualidade de vida na cidade. Ninguém ignora que sem o recurso das multas a adesão ao rodízio teria sido menor, mas seria um equívoco reduzir o êxito da iniciativa a esse constrangimento imposto aos motoristas. Em janeiro deste ano, pesquisa do Datafolha já indicava que o trânsito era o item da cidade com pior avaliação, sendo considerado ruim e péssimo por 76% dos entrevistados, contra 59% obtidos pela violência.
Reportagem publicada domingo por esta Folha mostra que o estágio falimentar do trânsito paulistano tem raízes numa histórica ausência de planejamento urbano, o que impulsionou um crescimento desordenado da cidade, sem o investimento correspondente em infra-estrutura viária ou a atenção necessária com o transporte público, prioritário em qualquer metrópole civilizada.
A atual administração, no entanto, não tem agido para minorar o problema. Ao mesmo tempo em que recorre ao paliativo do rodízio parcial, aprova a construção de grandes empreendimentos imobiliários em áreas da cidade que, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), estão com o trânsito saturado.
Sem uma política que dê prioridade ao transporte público e tenha como meta o planejamento urbano a médio prazo, não há como conter os abusos predatórios de um progresso que começa a tornar a cidade um lugar cada vez menos habitável.

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